Primo Levi, sobrevivente de Auschwitz: as lições de ontem contra o bolsonarismo de hoje!

“Países nunca podem se dizer imunes a uma futura onda de violência gerada pela intolerância, pela vontade de poder, por ações econômicas, por fanatismos religiosos ou políticos, ou por atritos raciais. É preciso, pois, despertar nossos sentidos, desconfiar dos falsos Messias, dos ilusionistas, daqueles que dizem e escrevem belas palavras não apoiadas por boas razões”.

Aconteceu, logo pode acontecer de novo!

Aconteceu contra toda a previsão. Aconteceu na Europa. Incrivelmente, aconteceu que todo um povo civilizado, recém-saído do intenso florescimento Cultural de Weimar*, este povo seguisse um histrião, um farsante, cuja figura hoje, leva ao riso. Entretanto, Adolf Hitler foi obedecido e incensado até a catástrofe.

O adversário não era nenhum demônio, talvez um verme. Mas depois do “Deus está conosco nazista, tudo mudou”.

A lógica virada para o mal ou ausência de lógica? Como é frequente nas coisas humanas, as duas alternativas coexistiam.

Não há dúvida de que o projeto fundamental do nacional-socialismo tinha uma racionalidade própria: o impulso para o velho sonho alemão, o sufocamento do movimento operário, a hegemonia sobre a Europa Continental, a aniquilação do Bolchevismo e do Judaísmo, a repartição do Poder Mundial com a Inglaterra e os Estados Unidos, a apoteose da raça germânica com a eliminação dos doentes mentais e das bocas inúteis. Todos esses pontos podiam ser deduzidos de alguns poucos postulados já expostos com inegável clareza em “Mein Kampf”.

A arrogância e radicalismo, lógica insolente, nunca loucura.

Odiosos, mas não loucos, eram também os meios previstos para desencadear agressões militares ou guerras desapiedadas, alimentar quinta colunas internas, transferir populações inteiras ou subjugá-los, ou esterilizá-los, ou exterminá-los.

Acontece que a racionalidade e os discípulos superaram amplamente o mestre, exatamente na prática da crueldade inútil.

Levi, ao comentar o envolvimento da maioria do povo alemão na cruzada genocida dos nazistas, nos traz um depoimento do escritor Manzoni, o autor de “Os Noivos”: “Os provocadores, os opressores, todos aqueles que, de um modo qualquer fazem mal aos outros, são réus não somente do mal que cometem, mas também da perversão a que conduzem o ânimo dos oprimidos”.

Os Campos de Concentração Nazista.

Desde seus primeiros livros e discursos, Hitler havia deixado claro: os judeus eram os parasitas da humanidade e deveriam ser eliminados como se eliminam os insetos nocivos.

As primeiras notícias sobre os campos de extermínio nazistas começaram a difundir-se no ano de 1942. Eram notícias vagas, mas convergentes entre si; delineavam massacre de proporções tão amplas, de uma crueldade tão extrema, e motivações tão intrincadas que o público tendeu a rejeitara-las em razão do seu próprio absurdo. É significativo como essa rejeição tenha sido prevista com muita antecipação para os próprios nazistas.

Muitos sobreviventes recordavam que os SS dos Campos de Concentração se divertiam avisando cinicamente os prisioneiros: ‘seja qual for o fim desta guerra e, a guerra contra vocês nós já ganhamos…. Ninguém restará para dar testemunho, mas mesmo que alguém escape, o mundo não lhe dará crédito. Talvez assim haja suspeitas discussões, investigações, mas não haverá certezas porque destruiremos todas as provas junto com vocês’.

O trabalho não pago, isto é, escravos e escravagismo era um dos três objetivos do sistema de castas: os dois outros eram a eliminação dos adversários políticos e o extermínio das chamadas as raças inferiores.

Felizmente as coisas não se desenrolaram com as vítimas temiam e que os nazistas esperavam, embora a destruição avassaladora de provas por estes nunca permitiu aquilatar a real dimensão do genocídio: seis ou oito milhões de vítimas?

É dever do homem justo declarar guerra a todo privilégio não merecido, mas não se deve esquecer que esta é uma terra sem fim. Sempre que exista um poder exercido por poucos, ou por um só contra a maioria, o privilégio então prolifera, inclusive até mesmo contra a vontade do poder; mas é normal que o poder o tolere e o encoraje. Pois o poder é como uma droga: após a iniciação, que pode ser fortuita, nasce a dependência e a necessidade de doses cada vez mais altas; também nasce a recusa da realidade e o retorno aos sonhos infantis de onipotência.

Se por um lado a intolerância tende a censurar, a censura aumenta a ignorância das razões alheias e, portanto, a própria intolerância; é um círculo vicioso rígido, difícil de romper.

“Não tenho tendência a perdoar, jamais perdoei um dos nossos inimigos! E então, nem tenho vontade de perdoar a seus imitadores da Argélia, no Vietnã, na União Soviética (estalinista), no Chile, na Argentina, no Camboja, na África do Sul (da segregação racial) , porque não conheço atos humanos que possam cancelar um crime: exijo Justiça!”

A perenidade do Progresso humano é tão somente uma ingenuidade nascida no século XIX.

Os tempos em que vivemos, são testemunhas de que Primo Levi tinha absoluta razão, em 1986, ao alertar as gerações vindouras!

Bolsonaro e sua gangue são acólitos de Hitler e Mussolini, a melhor tradução política da estupidez orgulhosa de si mesma. Esta estupidez que em 2018 elegeu não somente o Presidente do Brasil, mas também o pior, mais estúpido e corrompível Congresso de todos os tempos da República!

Entretanto, Bolsonaro também sabe que sua popularidade está decadente, e em breve, a maioria da população, se puder, o colocará pelo voto fora do poder!

Mas ele conta com empresários aproveitadores endinheirados, com parcela das FFAA, com as milícias e um exército de sequazes, além do apoio irrestrito de um quarto do povo brasileiro.

Mas será derrotado!

Desde que não nos esqueçamos da lição que nos foi legada por outro ditador no século XVII, o inglês Cromwell, que disse ao Parlamento subjugado: “Sou odiado por nove em cada dez ingleses. Mas que me importa se o um que sobra é o armado? ”

Primo Levi. Em 1943, Levi se juntou aos “partisans” antinazistas do norte da Itália, no Movimento Justiça e Liberdade. Sem o menor treinamento militar, ele e seus companheiros foram feitos prisioneiros pela milícia fascista. Em seguida, transportado para Auschwitz. Levi ficou onze meses no chamado campo da morte, até ser libertado pelo Exército Vermelho.

Os extratos que permeiam este ensaio foram obtidos em seu último livro: “Os afogados e os sobreviventes. ”

*A “República de Weimar” foi um período de transição na história alemã (entre 1919 e 1933) em que o sistema de governo passou da monarquia para a democracia representativa, sob a forma de República Parlamentarista. Foi destruída pela vitória nazista nas eleições parlamentares de 1933.

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