O pastor luterano que enfrentou Hitler e o antissemitismo, pioneiro do ecumenismo religioso.

Preso pela Gestapo em abril de 1943 por ajudar a fuga de famílias judaicas da Alemanha, foi transferido da prisão de Berlim para o campo de concentração de Buchenwald e, por fim, para o de Flossenbürg, onde foi enforcado junto com outros conspiradores, acusado de por detrás das grades participar da conspiração antinazista de 1944.

Seu assassinato ocorreu em 9 de abril de 1945, um mês antes da libertação da Alemanha.

“É o fim. Para mim, o início da vida”, disse ele, sereno, antes da execução.

Nascido em Wroclaw em 1906, em uma família da alta burguesia alemã, seu pai era um importante professor de psiquiatria e neurologia; a mãe, uma das poucas mulheres com formação profissional da sua geração.

Bonhoeffer estudou teologia em Berlim, e tornou-se pastor. Professor universitário com doutorado em teologia, foi um pioneiro do movimento religioso ecumênico, escritor prolífico, poeta e uma figura central na luta contra o nazismo dentro da própria Alemanha Nazista!

Pacifista e ecumênico em uma época em que o nacionalismo dominava o mundo alemão, foi durante uma viagem a Nova York, em 1930, que descobriu o mundo dos negros e imergiu fascinado na vida do Harlem. Tornara-se fã da musicalidade negra jazzística.

Lá também descobriu uma das variantes do racismo: aquele das Igrejas dos brancos americanos! Conheceu os seres humanos na sua realidade intrínseca, a maldade, a estupidez e seus dramas.

Descobriu também que a política nunca poderia ser irrelevante para um verdadeiro cristão!

Sua ética aliada à sua teologia caminharia desde então, junto com o compromisso pessoal na vida cotidiana, de acordo com os ditames do “Sermão da Montanha”: “Justiça social, fraternidade sem fronteiras, compaixão pelo sofrimento”.

Não podemos, dizia ele, usar Deus como “tapa-buracos”. “Ele nos deixa a plena responsabilidade do mundo”; e isto ele o afirma em uma das mais destruidoras e implacáveis épocas da humanidade, tempos em que até mesmo os bem-intencionados fugiam ou disfarçavam suas opiniões para não se comprometerem.

Retornando, em 1931 Bonhoeffer começou a lecionar na Faculdade de Teologia de Berlim e foi ordenado pastor. Começou, então, sua a atividade no nascente movimento ecumênico, estabelecendo contatos internacionais que, depois, teriam grande importância para seu empenho na resistência.

Em 1931, ele foi eleito secretário juvenil da União Mundial para a Colaboração entre as Igrejas e, em 1933, passou a fazer parte do Conselho Cristão Universal “Life and Work” (do qual nasceria, depois, o Conselho Ecumênico de Igrejas).

Com a ascensão de Hitler ao poder em 1933, a Igreja Evangélica Alemã, a qual Bonhoeffer pertencia, entrou em uma fase difícil e delicada. A maioria dos protestantes alemães foram favoráveis e alinharam-se ao nazismo. Em particular, o grupo dos chamados “cristãos-alemães” tornou-se porta-voz da ideologia nazista dentro da Igreja. No verão de 1933 impuseram um “parágrafo ariano” para a Igreja, segundo o qual era impedido que os “não arianos” se tornassem ministros de culto ou professores de religião.

Em abril de 1933, em “A Igreja diante do problema dos judeus”, Bonhoeffer foi o primeiro a abordar o tema da relação entre a Igreja e a ditadura nazista, defendendo fortemente que a Igreja tinha o dever de se opor à injustiça política.

Em seu manifesto, Bonhoeffer se opôs firmemente ao racismo ariano: se aos “não arianos” fosse impedido o acesso ao ministério, então os pastores teriam que renunciar em sinal de solidariedade, também sob o custo de fundar uma nova Igreja, livre da influência do regime de Hitler.

Bonhoeffer recusou um posto de Pastor em Berlim, por solidariedade com aqueles que eram excluídos do ministério por razões raciais, e decidiu se mudar para uma congregação de língua alemã, em Londres.

Em maio de 1934, nasceu a chamada Igreja Confessante por obra de uma minoria interna da Igreja Evangélica Alemã, que adotou a oposição ao nazismo. Bonhoeffer voltou, então, para a Alemanha para dirigir um seminário clandestino para a formação dos pastores da Igreja Confessante.

Em agosto de 1937, um decreto de Himmler declarou ilegal a atividade de formação de candidatos a pastores para a Igreja Confessante. O seminário de Finkenwalde foi fechado pela Gestapo.

Nos dois anos seguintes, Bonhoeffer continuou a atividade de professor teológico na clandestinidade; em janeiro de 1938, a Gestapo o baniu de Berlim e, em setembro de 1940, proibiu-o de falar em público.

Em 1939, Bonhoeffer se aproximou de um grupo de resistência e conspiração contra Hitler, constituído entre outros pelo advogado Hans von Dohnanyi (seu cunhado), pelo almirante Wilhelm Canaris e pelo general Hans Oster.

O teólogo constituiu um elo fundamental entre o movimento ecumênico internacional e a conspiração alemã contra o nazismo.

Em 1939, foi aos EUA para uma série de conferências. A guerra se aproximava. Voltar? Foi uma luta interior. Volta para a Alemanha sabendo o que iria encontrar?

Mas sua consciência o impediu de permanecer “protegido” enquanto seus irmãos eram trucidados pelo Nazismo. Retornou à Alemanha e organizou, clandestinamente, a fuga de judeus, até ser preso em 1943.

Durante os dois anos de prisão que precederam a sua morte, nas cartas ao amigo Eberhard Bethge, Bonhoeffer explorou o significado da fé cristã em um “mundo que se tornou adulto”, perguntando-se: “Quem é Cristo para nós hoje?”.

Durante a sua vida, Bonhoeffer publicou, em 1930, “Sanctorum communio”; em 1931, “Ato e ser”, em 1937, “Discipulado”; em 1938, “A vida comum”.

As cartas e as anotações escritas durante sua prisão e enviadas ao amigo Eberhard Bethge foram publicados por ele postumamente em 1951, sob o título de “Resistência e Submissão” ( Editora Sinodal).

“Devemos participar da amplitude do coração de Cristo na ação responsável, ele que, com toda a liberdade, aceita a hora e se submete ao perigo.”

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