É de Noam Chomsky a reflexão envolvendo Santo Agostinho e que envolve o novo Papa, o americano-peruano Leão XIV.
Agostinho conta a história de um pirata capturado por Alexandre, o Grande, que lhe perguntou: “Como você ousa atormentar os que navegam? ”
Responde-lhe o pirata: “E como você ousa desafiar o mundo inteiro? Se por fazer isso apenas com um navio pequeno, sou chamado de ladrão; mas você, que o faz com uma esquadra de guerra, é somente chamado de imperador”.
Agostinho considera “excelente” a resposta do pirata. E, assinala Chomsky, ela ilustra com exatidão as relações atuais entre os USA, Israel, os palestinos e outros Estados ditos islâmicos.
Um Estado pode se tornar terrorista, sob a bandeira da autodefesa!
A história de Santo Agostinho ajuda a esclarecer o significado do conceito de terrorismo e de “seus leais cortesãos”, uma vez que somente atos praticados contra os “USA, Israel e seus aliados contam como atos de terror” (Chomsky).
A resposta global à guerra Israel-Hamas é repugnante, diz a relatora da esfacelada ONU para o conflito, Francesca Albanese. Ela afirma que uma facção terrorista cometeu crimes injustificáveis, mas critica a resposta de Tel Aviv. Albanese clama por um cessar-fogo imediato e afirma que a comunidade internacional, cujas ações descreve em termos como “repugnantes” e “cínicas”, tem falhado.
A relatora diz ainda que a ocupação dos territórios palestinos, que chama de um movimento colonizador feito por Israel, agride os dois povos. “A colonização de povoamento aprisiona tanto os palestinos quanto os israelenses. Claro, com responsabilidades diferentes. ”
E encerra: “O Hamas tem uma espécie de filosofia que não é diferente da de Israel: não distingue entre civis e militares. Nesse sentido, para mim, são iguais. Mesmo que todos os membros do Hamas sejam mortos, manter uma população inteira oprimida e privada de seus direitos gera resistência”, concluiu a relatora da ONU.
E ISTO NÃO É TERRORISMO?
Há mais de sessenta anos, Israel bombardeia cidades árabes, provoca o êxodo de palestinos e, depois, invade os campos de refugiados onde eles são aprisionados, matando civis a mão cheia, sem que ocorra um único arremedo de retaliação sequer. Envia soldados a cidades do Líbano em “operações antiterrorista”, onde eles matam, destroem; realizam operações de aprisionamento de seres humanos e os enviam a verdadeiros campos de concentração sob condições sub-humanas.
Agora, em conluio e subserviência com o governo genocida de Trump, Israel pretende extinguir pela fome, sede e massacres, todos os palestinos da Faixa de Gaza e colonizá-la com sionistas!
O cientista político israelense Yoram Peri observou que um milhão de jovens judeus aprenderam no serviço militar “que a tarefa do exército não é apenas defender o país contra exércitos estrangeiros, mas também aniquilar os direitos de pessoas inocentes, apenas porque são “araboushim” vivendo em terras que Deus nos prometeu. ”
Ou seja, o serviço militar formata jovens para participarem de atos terroristas, protegidos pelo “deus” de Moisés! Um Papa agostiniano que teve por mestre o humanista Francisco jamais seria conivente com esta abominação!
Nos anos 1970, M. Begin, quando primeiro-ministro de Israel, denominava os palestinos de “bestas de duas pernas. ” Exatamente a mesma expressão utilizada pelo atual comandante do exército, que chamou os palestinos de “animais ” contra os quais todas as armas são legítimas.
Outro primeiro-ministro, Ariel Sharon, após comandar os massacres de Sabra e Chalita, aconselhou à polícia que a melhor maneira de lidar com os manifestantes palestinos é “arrancar-lhes os testículos. ” Legalizava Israel a tortura!
Abominações dignas de um Himmler!
No princípio do século XXI, a imprensa israelense publicou detalhadas ações terroristas praticadas por colonos e pelas forças de ocupação israelense nos territórios da Cisjordânia. Colonos ditos ultra ortodoxos, representados no governo fascista de “Bibi” Netanyahu.
Estas denúncias incluíam além da emigração forçada do palestino, o roubo de todos seus parcos pertences, também humilhações, tal qual obrigarem os “araboushim” a urinarem e defecarem uns nos outros e a rastejarem e lamber o solo dando loas ao Estado de Israel.
O escritor israelense Boaz Evron descreveu de modo sucinto a técnica da ocupação israelense: “mantê-los sob controle, sabendo que permanece uma espada sobre cada cabeça… talvez isso faça mais sentido que as chacinas, que voltarão, sempre e quando convenha ao governo”.
Ou seja: o terrorismo praticado pelo Hamas nunca pode ser justificado, mas explica-se!
O cientista político Raja Shehadah disse há quase quarenta anos atrás:
“Os palestinos têm poucas opções. Ele tem que resistir constantemente à dupla tentação de ou aceitar os planos de seus opressores em mudo desespero ou enlouquecer, reprimindo o ódio pelo opressor e por si mesmo, o oprimido. ”
Para o opressor os problemas só começam quando as baratas tontas ficam enlouquecidas de ódio, erguem a cabeça e os imitam!
Para os USA, para a imprensa ocidental, para o jamais o exército israelense, que invadirá “o gueto” em que se transformou Gaza praticará atos de terrorismo; sua violência será justificada como luta antiterror, mesmo que extermine dezenas, centenas de milhares de palestinos, incluindo mulheres, crianças, civis. Aliás, os bombardeios indiscriminados já destruíram toda a estrutura que permita a vida humana em Gaza!
O que importa é exterminar a RAÇA PALESTINA!
A direita israelense, mesmo a maior parte dos sionistas, JAMAIS aceitaram a criação de Dois Estados, que foi a decisão da ONU: um Judeu, outro Palestino. Mesmo que o Palestino fosse minúsculo, desarmado, pobre, dominado por Israel- USA!
Gaza já é o Gueto Judeu de Varsóvia redivivo!
O Papa Leão XIV inspirar-se-á em Santo Agostinho e será mais uma voz a proclamar: o bandido não era o pirata. Sempre é o Império, o opressor!
Referência: Chomski, N.: Piratas e Imperadores, antigos e modernos, ed. Bertrand Brasil.
3 respostas
Muito bom o seu texto. Parabéns!
Excelente e esclarecedor texto Só se é terrorista quando se é privado das garantias e liberdaes individuais …
A memória sempre retorna para reinvindicar sua posição. Não e uma releitura, mas sim a emergência de um episódio revelador, cuja abertura ganha força para mostrar como o invisível não garante a omissão do visível. Apresentado por um excelente texto rememoravel.