A condenação à morte nos USA: uma negra e inventiva barbárie histórica!

“The New York Times”, dia 5 de março de 2005, analisou a barbárie punitivista do Estado Norte Americano.

O objetivo do jornal era chegar historicamente ao “caso” George Junius Stinney Jr., simbolismo do assassinato racista realizado pelo Estado da Carolina do Sul, para acobertar o verdadeiro assassino: um branco de família rica que massacrara duas meninas brancas, pobres.

O jornal americano elenca fatos que jamais deveriam ser esquecidos:

· 1642, Thomas Graunger, condenado e enforcado por “atos bestiais”, cometidos aos 16 anos.

· 1786, Hanna Ocuish, executada por haver cometido um crime de morte quando possuía apenas 12 anos de idade. Cor da pele: negra.

· 1885, James Arcene, enforcado por crime cometido aos 10 anos de idade. Cor da pele: “vermelha”.

· 1890. A execução de Willian Kremmeler foi a primeira realizada numa “cadeira elétrica”.

· 1924. A grande inovação americana, que os nazistas reproduziriam em monstruosa escala nas décadas seguintes! Gee Jon foi executado na primeira “câmara de gás”. Cor da pele: “amarela”.

· 1936. Raineth Bethea foi a última execução por enforcamento feita para o grande público na América. Cor da pele: negra.

· 1944. George Junnius Stinner Jr., foi executado aos 14 anos de idade, na “cadeira elétrica”. Em virtude de sua baixa estatura, duas Bíblias foram colocadas sobre o acento da cadeira. Cor da pele: negra.

· 1982. Charles Brooks foi a primeira pessoa a ser executado por injeção letal. Cor da pele: negra.

· 1987. Suprema Corte aprovou que disparidades de sentenças por raça e cor não violavam a Constituição Americana.

· 1989. Suprema Corte decidiu pela permissão de condenação à morte de pessoas que tivessem 16 anos à época do crime.

· 1989. Suprema Corte Americana tornou legal a condenação à morte de retardados mentais. John Penny, descrito como “débil mental” por médicos desde os 7 anos de idade, foi executado.

· Somente em 2002, a Suprema Corte barrou a execução de retardados mentais.

· Apenas em 2005, a Suprema Corte Americana proibiu a execução de crimes cometidos antes dos 18 anos de idade.

O “caso” George Junius Stinney Jr.

“… todos os membros do júri eram brancos. O julgamento durou duas horas e meia e o júri tomou a decisão após apenas 10 minutos de reunidos…”

George Stinney Jr. Era um menino franzino, negro de apenas 14 anos, no momento da sua execução na cadeira elétrica. Os pais do garoto, ameaçados, foram excluídos do julgamento depois de receberem ordens para deixar a cidade e, antes do julgamento, George passou 81 dias detido em uma solitária.

A carga de corrente elétrica na cabeça de George foi de 5.380 volts. Ele era tão pequeno que quando foi colocado lá tiveram que arrumar a altura colocando duas Bíblias debaixo do assento para poderem anexar os eletrodos.

Nunca existiu sequer uma evidência concreta da autoria sua no crime e, além do mais, a criança tinha um álibi! Sua irmã Amie estava com ele na hora do suposto crime: estavam vendo uma vaca pastar perto das trilhas de trem, que separava os negros dos brancos pobres, quando as duas meninas brancas passaram por ali de bicicleta e lhes disseram que estavam colhendo flores, “amor perfeito”.

Em 1944 o julgamento de George foi uma farsa! Mais de 1.000 brancos lotaram o tribunal, mas nenhum negro foi permitido.

O advogado de defesa nomeado pela Corte foi Charles Plowden, racista aliado à Klan, que fazia campanha para sua própria eleição a Procurador do Estado.

Ele não discutiu, não apresentou testemunhas, disse apenas ser o acusado muito jovem para acabar na cadeira elétrica! Nas alegações finais, o rábula admitiu o crime de seu “cliente”! Após a sentença tão pouco recorreu e, menos de dois meses após, em 16 de junho de 1944, George Genius Stinney foi executado!

O jovem de 14 anos disse ao Júri que os policiais que o prenderam o haviam deixado sem água e sem comida até que confessasse o crime! Mas ele não assinara a confissão!

Os jurados não quiseram tomar conhecimento da gravidade do fato! E tão pouco o advogado de defesa chamou à barra do Júri os policiais envolvidos!

Como testemunha de acusação, foi arrolada uma professora negra da escola de Stinney frequentava. Ela relatou uma briga entre alunos em que ele teria “arranhado uma garota com um canivete”. Outra testemunha, uma mulher branca, disse que o mirrado Stinney, de menos de 1,60m, havia ameaçado matá-la e um amigo um dia antes do assassinato, e que ele era conhecido como um valentão!

Já o médico legista não relatara nenhuma evidência de agressão sexual à menina mais nova, embora a genitália da mais velha estivesse um pouco machucada. Afirmava também que os himens das duas garotas permaneciam intactos no momento das autópsias.

O tribunal permitiu, inclusive, a discussão da “possibilidade” de estupro!

Nem mesmo uma transcrição do julgamento foi realizada!

Quase 70 anos depois, para o advogado Steve McKenzie, que reabriu o caso para um novo julgamento, disse que “não houve justiça” e George, absolutamente inocente, fora condenado à cadeira elétrica!

“Além do fato óbvio de que não houve um julgamento justo neste caso, não há provas, não há confissões escritas, mas apenas aquelas feitas na frente de policiais brancos! Não há testemunhas, não há transcrições do julgamento, nada que indique que o menino fosse culpado de absolutamente nada”.

E então, finalmente em 2014, chegou-se à anulação da sentença! Bastante tardia!

A verdadeira história do crime.

Em 1944, George Stinney vivia em Alcolu, Carolina do Sul, com sua família. O pai de Stinney trabalhava na serraria da cidade. Alcolu era uma pequena cidade onde bairros brancos e negros eram separados por trilhos de trem. Uma típica cidade de trabalhadores do sul da época.

Os corpos das meninas Betty June Binnicker e Mary Emma Thames foram encontrados em uma vala em 23 de março de 1944, depois de não terem voltado para casa na noite anterior.

O próprio pai de Stinney ajudou a polícia na busca. Os corpos foram encontrados no lado dos negros de Alcolu, numa vala próxima à casa do menino.

As meninas tinham sido espancadas até a morte com material metálico. A ausência de sangue no local indicava claramente que os corpos haviam sido para lá transportados, mas isto jamais interessou à polícia!

Já no dia seguinte, o Xerife anunciou a prisão de “George Junius” e afirmou que o menino havia confessado e levado os policiais a “um pedaço de ferro escondido”!

Em 2014, quando o caso foi reaberto pela justiça, o investigador Frierson declarou em entrevistas:

“Houve uma pessoa que foi nomeada como sendo a culpada, que agora está morta.” Disse também que o verdadeiro culpado era de uma conhecida e proeminente família branca. Outro membro, dessa mesma família, havia sido incluído no próprio júri condenatório!

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