LSD e armas químicas: cientistas nazistas e a CIA norte-americana.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, o Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos colocou em ação ultrassecreta denominada “Operação Paperclip”. E ela foi levada a cabo sem o conhecimento do próprio Presidente Roosevelt, que faleceria menos de um mês antes do fim da Guerra!

O resultado foi que quase 1500 cientistas nazistas, todos criminosos de guerra, foram recrutados pelas forças armadas americanas, agora sob as ordens do vice-presidente americano, Truman .

Os cientistas nazistas não somente escaparam de toda e qualquer acusação pelo genocídio do qual haviam participado como, nos EUA, muito bem remunerados, prosseguiram suas pesquisas e investigações, as quais já realizavam para o III Führer, englobando armas químicas, o uso dos psicotrópicos na tortura e lavagem cerebral, e, principalmente, pesquisas sobre a conquista do espaço aéreo!

Longe de colocá-los em cargos e postos subalternos, o Pentágono confiou-lhes a direção destes programas, que eles marcaram com o seu próprio cunho ideológico- o nazi fascista!

A chamada “Operação Paperclip” foi confiada à Joint Intelligence Objectives Agency, que agrupava o conjunto de agências dos serviços de informação militares. Como explicará mais tarde o seu diretor, Bosquet Wev, «o governo não deveria se preocupar com ‘bagatelas’”, ou seja, com os processos contra os nazistas em Nuremberg, o qual julgava criminosos de guerra nazistas.

Em 1949, a um grupo de cientistas resgatados da Alemanha através da operação secreta “Paperclip”, baseados na Base Militar de Edgewood, foi confiada uma nova missão: testar e monitorar cientificamente um psicotrópico surpreendente, que provocava alucinações e tendências para o suicídio nos seres humanos!

Tratava-se do LSD, ácido lisérgico, descoberto alguns anos antes por Hoffmann, nos laboratórios da Sandoz , na Suíça. Sua utilização devia ser, de acordo com o seu principal funcionário do governo envolvido, L. Wilson Greene, “tornar possível uma guerra mais humana”.

O objetivo era, com efeito, determinar a perspectiva de se recorrer militarmente ao uso do LSD e de outras seis dezenas de outros psicotrópicos, para efetuar uma guerra “psicoquímica” destinada a enfraquecer a população e tropas inimigas.

Com a Guerra Fria e a multiplicação das operações de intervenção em países considerados geopoliticamente sob o domínio americano, a CIA açambarcou o projeto e focalizou-o na condução dos interrogatórios e nos meios para quebrar a resistência psicológica dos interrogados, assim como provocar dissociações psicológicas e estados de amnésia.

Um vasto recenseamento das plantas psicotrópicas foi empreendido pelo ex-Comandante das SS nazistas, Friedrich Hoffmann, a fim de desenvolver o “Soro da Verdade” ideal. Ele também utilizou um composto químico desenvolvido como anestésico pelo laboratório Abbott, o pentotal sódico, testado agora para baixar a guarda de uma pessoa, quando sob interrogatório ou tortura.

Administraram-se, assim como o pentotal, importantes doses de LSD a soldados tornados cobaias involuntários da base militar Edgewood. Aplicados antes de submetê-los a interrogatórios agressivos, provocaram nos soldados estados de medo intenso, em outros, convulsões, epilepsia ou crises de paranoia aguda, que lhes deixaram numerosas sequelas para toda a vida.

As investigações sobre a amnésia conduziram à utilização do Sernyl (SNA), conhecido igualmente sob o nome de PCP ou “pó de anjo”, que se administrava por via oral ou em aerossol a soldados enquanto marchavam sobre um tapete rolante. Acessos de loucura intensa, de amnésia total e outros comas foram observados nos laboratórios de Edgewood.

Mais de três mil soldados americanos sofreram, sob a supervisão de cientistas criminosos nazistas, lesões físicas e psíquicas para o resto de suas vidas.

Os cientistas nazistas recrutados pela CIA para a guerra química, que os EUA preparavam contra a URSS, eram essencialmente cientistas alemães que tinham trabalhado para a gigante da indústria química alemã IG Farben (que produzia o gás Zyklon B utilizado nos campos de concentração),associada à farmacêutica Bayer.

Walter Reppe era o antigo químico chefe da IG Farben; os Estados Unidos o atraíram a preço de ouro para seus programas, mesmo ele já tendo trabalhando para os britânicos, no desenvolvimento de outras armas químicas.

No entanto, um dos mais virulentos cientistas nazistas trazidos pela Operação Paperclip que participaram nas investigações sobre a guerra química e psicológica, foi o Brigadeiro-General SS Walter Schlieber, que tinha supervisionado as fábricas de armamento francesas sob a ocupação, assim como fora o Superintendente de todo o programa nazista de guerra química!

Encarcerado em 1945 por milhares de crimes de guerra, salvou a sua pele redigindo relatórios sobre o desenvolvimento de compostos para uma possível guerra química para o Exército dos EUA. Em troca, os EUA acobertaram as ações do Brigadeiro para que ele fosse apenas uma testemunha incriminadora de seus próprios parceiros de genocídio em Nuremberg. Logo depois, o Brigadeiro foi integrado à Operação Paperclip.

A delação premiada do nazista foi plenamente compensada com a cidadania norte-americana e um salário anual de 50 mil dólares, à época!

Fontes:

Business Insider, May 7, 2018, “The most impactful event in every state that shaped US history”

Vulture, June 24, 2019, “The Full-Circle Journey of ‘Homer Simpson Backs Into the Bushes’”

PBS NewsHour on YouTube, March 31, 2014, “When the U.S. recruited Nazis for ‘Operation Paperclip'”

The Mimi Geerges Show on YouTube, March 19, 2014, “Bringing Nazi Scientists to America – Annie Jacobsen”

Smithsonian Magazine, Nov. 16, 2016, “Why the U.S. Government Brought Nazi Scientists to America After World War II.”

NPR, Feb. 15, 2014, “The Secret Operation To Bring Nazi Scientists To America.”

Central Intelligence Agency Library, Oct. 6, 2014, “Operation Paperclip: The Secret Intelligence Program to Bring Nazi Scientists to America”

National Archives, Oct. 11, 2016, “Records of the Secretary of Defense (RG 330)”

Esquire, Feb. 23, “Hunters’ Nazi NASA Scientists Are Based on the True Story of Operation Paperclip”

Time, July 18, 2019, “How Historians Are Reckoning With the Former Nazi Who Launched America’s Space Program”

The Associated Press, Oct. 26, 1993, “Portrait of Nazi Prompts Protest”

The Virginian-Pilot, Jul. 20, 2014, “How the U.S. secretly scooped Hitler’s top scientists”

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