Em 1948, intelectuais judeus advertiam sobre a surgimento, em Israel, de um partido com ideias similares aos nazifascistas, recém derrotados em 1945. Em carta enviada ao jornal The New York Times, em 4 de dezembro de 1948, alertavam para os perigos da fundação do chamado Partido da Liberdade, o Likud, no recém-criado Estado de Israel.
Segundo o documento publicado, “se tratava de um partido político muito parecido em sua organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazistas e fascistas”.
A carta assinada por Hannah Arendt e Einstein falava da visita de Menachem Begin, líder da legenda, aos Estados Unidos. “As apreensões públicas da festa de Begin não são nenhum guia para seu caráter real. Hoje falam de liberdade, democracia e anti-imperialismo, quando até há pouco tempo pregavam abertamente a doutrina do Estado fascista. É nas suas ações que o partido terrorista trai o seu verdadeiro caráter; a partir de suas ações passadas, podemos julgar o que se pode esperar que ele faça no futuro. ”
Quando falavam de “ações passadas”, os signatários do documento se referiam ao fato de a nova legenda ser formada por integrantes do “antigo Irgun Zvai Leumi, atual Likud, uma organização terrorista, de direita e chauvinista”. E citam o massacre de Deir Yassin, uma aldeia palestina situada a oeste de Jerusalém.
“Esta aldeia, fora das estradas principais e cercada por terras judaicas, não tinha tomado parte na guerra… Em 9 de abril, bandos terroristas atacaram esta vila pacífica, que não era um objetivo militar nos combates, mataram a maioria de seus habitantes, 240 homens, mulheres e crianças e mantiveram alguns deles vivos para desfilar como cativos pelas ruas de Jerusalém”.
Naquele então, a maioria da comunidade judaica ficou horrorizada com o ato, e a Agência Judaica enviou um telegrama de desculpas ao rei Abdullah, da Transjordânia.
Mas os terroristas, longe de se envergonhar do ato, orgulharam-se do massacre, divulgaram-no amplamente e convidaram todos os correspondentes estrangeiros presentes no país a verem os cadáveres amontoados e o caos geral em Deir Yassin”, contam, na carta.
“O massacre em Deir Yassin e suas repercussões formam uma parte importante da memória coletiva dos palestinos e do trauma coletivo sofrido por gerações de palestinos despossuídos e brutalizados pelo sistema de apartheid de Israel. Representa a violência, a perda repentina de suas casas e pátria, e a quase total destruição da sociedade palestina por Israel durante a Nakba, uma situação que perdura hoje com Israel continuando a oprimir sistematicamente os palestinos e forçá-los a sair de suas casas e fora de suas terras. Isso é conhecido como a Nakba em andamento”, destaca o Institute for Middle East Understanding (IMEU).
Ainda em 1948, 400 outros povoados palestinos foram destruídos e, aproximadamente 750 mil palestinos foram expulsos de suas casas!
Estabelecia-se o Estado de Israel!
Em 1977, o terrorista Begin se tornaria o primeiro líder do Likud a ocupar o cargo de chefe de governo de Israel, permanecendo no posto até 1983. Já o líder da milícia Stern, que perpetrou o massacre de Deir Yassin, Yitzhak Shamir, seria o segundo primeiro-ministro do partido, entre 1983 e 1993. Foi sucedido por Benjamin Netanyahu, então em seu primeiro mandato.
O Estado de Israel foi um projeto colonial de colonos que exigiu a remoção forçada e a eliminação de milhões de habitantes da Palestina histórica.
Desde então, Israel tem seguido com um processo de apartheid e uma ocupação ilegal e brutal dos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO). O que está acontecendo agora em Gaza, parece muito com uma segunda “Nakba”, na qual o atual governo de Israel, comandado pelo Likud, decidiu empreender a limpeza étnica de Gaza, a fim de concretizar a sua visão do Grande Israel.
O futuro tenebroso previsto por Einstein é agora!
Segundo Andrew Feinstein, Benjamin Netanyahu é um ultranacionalista, genocida, chauvinista e fascista – com um adicional de corrupção sistêmica e pessoal numa escala que supera os seus muitos antecessores corruptos.
A corrupção de Netanyahu é evidente não só nos casos bem documentados de recepção de presentes e benefícios excessivos e de “compra” de cobertura mediática favorável, mas também em negócios massivos de armas que envolvem subornos numa escala muito maior.
O sexto e atual governo de Netanyahu é uma coligação que compreende os atores políticos mais extremistas da direita, na controversa história de Israel. Orgulhosamente fascista, a coligação é composta por islamófobos abertamente racistas, que foram historicamente marginais na política israelita, mas que agora conduzem a política nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO).
O governo de Netanyahu inclui Bezalel Smotrich como ministro das Finanças e, estranhamente, também titular do Ministério da Defesa! Nesta última função, tem autoridade sobre “questões civis na Cisjordânia”, incluindo a atribuição de terras e o planejamento e construção de colonatos ilegais.
O próprio Smotrich vive num colonato ilegal e acredita que os TPO fazem parte de Israel – uma posição que, na sua terrível visão do mundo, os palestinos devem aceitar e, portanto, devem “escolher” entre uma vida de subjugação sob o domínio israelita, a emigração voluntária ou morte. Um racista notório que orgulhosamente se descreve como um “homofóbico fascista”.
O ministro da Segurança Nacional, Ben-Gvir, é emblemático da natureza extrema do governo. Em 2007, foi condenado em Israel por incitar ao racismo e apoiar uma organização terrorista. Ben-Gvir deveria estar na prisão em vez de servir como um dos ministros mais poderosos do seu país.
O governo de Netanyahu compreende os atores políticos mais extremistas da direita na controversa história de Israel.
O mentor de Ben-Gvir, Meier Kahane, propagou notoriamente a “violência judaica” para livrar o Grande Israel dos seus habitantes árabes. Um tribunal dos EUA o condenou por terrorismo. Ele inspirou Baruch Goldstein, que em 1994, assassinou a sangue frio 29 palestinos. Ben-Gvir costumava ter um retrato de Goldstein pendurado em destaque em sua casa.
Kahane é mundialmente considerado um racista e terrorista e foi proibido de concorrer às eleições para o Knesset porque o seu partido propagava o racismo. No entanto, o seu protegido Ben-Gvir é hoje um ministro sênior do governo israelita e exerce um enorme poder sobre os TPO.
Tanto Ben-Gvir como Netanyahu desempenharam papéis de, no mínimo, incentivo no assassinato de Yitzakh Rabin, em 1995, o primeiro-ministro israelita que assinou o Acordo de Paz de Oslo. Netanyahu participou numa marcha dos seguidores de Kahane que apresentava um caixão com as palavras “Rabin está a causar a morte do sionismo” e apoiou a multidão num comício gritando “Morte a Rabin”.
Ben-Gvir foi ainda mais longe: enquanto brandia um enfeite roubado do carro de Rabin, Ben-Gvir proclamou “hoje chegamos ao carro de Rabin, vamos chegar até ele também”.
Rabin foi assassinado algumas semanas depois.
Enfim, o governo israelense de Netanyahu e Ben-Gvir é o mais direitista, racista e genocida da história de Israel. Abandonou qualquer pretensão de democracia significativa e responsável, mesmo para os seus cidadãos judeus privilegiados.
“Criou uma conjuntura política em que Israel tem um sério problema de supremacia judaica, muito semelhante à mentalidade de supremacia branca do apartheid na África do Sul”.
“Em sua reação às ações terroristas do Hamas dentro de Israel, este governo sente-se muito confortável em cometer genocídio. O apoio incondicional e acrítico que este governo fascista e criminoso recebeu dos líderes políticos britânicos, tanto conservadores como trabalhistas, dos franceses, americanos garantirá que este genocídio continue até que Israel tenha alcançado os seus objetivos mortais e ilegais”, relata, ainda, Feistein.
A destruição e o genocídio praticados por Israel na faixa de Gaza; o apoio incondicional dos USA através da CIA, do armamento bélico de extermínio e financeiro, demonstram que o alerta de Arendt, Albert Einstein e de outros jamais foi escutado!
Ref.: Andrew Feinstein é ex-deputado do Congresso Nacional Africano (CNA), filho de um sobrevivente do Holocausto e autor de” The Shadow World: Inside the Global Arms Trade”. (Penguin, 2012)
2 respostas
Texto exemplar! Vou posta-lo na minha página do Facebook! Parabéns!
Gostei bastante do texto. Excelente iniciativa.