A loucura na sociedade líquida: Balman, Bordoni, Orwell, Marx, Bellow.

Existiria um modo de sobreviver à liquidez? Se existir, este consiste justamente em perceber que vivemos em uma sociedade líquida que, para ser compreendida e, quem sabe, talvez superada, exige instrumentos totalmente dos diferentes dos tradicionais.

Acontece vivemos hoje um fenômeno universal no século XXI, que sucedeu ao assim denominado pós-modernismo. Pois para Bordoni, “o pós-modernismo conheceu uma fase pouco percebida de declínio, afinal, vindos da modernidade, atravessamos algo temporário e pelo qual passamos quase sem nem perceber. ”

Afinal, o pós-moderno era como uma ponte que levava a humanidade a um lugar sem nome, uma “no Land”. A essa “no Land”, Bauman cognominou sociedade líquida.

E Bauman foi muito longe, ao enxergar a crise de degeneração do Estado. Desaparecia uma entidade que garantia aos indivíduos a perspectiva de solução de seus problemas dentro de uma determinada ordem estabelecida. Um Estado que perdia, além de sua representatividade social, sua própria independência, ajoelhando-se perante os poderes de magnatas e entidades supranacionais.

Ele também descreveu a crise no próprio conceito da comunidade humana. A emersão de um individualismo desenfreado, onde ninguém é companheiro de ninguém e sim, seu antagonista. O próximo é sempre alguém de quem se deve proteger, quando não, atacar.

Este individualismo cada vez mais extremado que terminou por solapar as bases da modernidade e do pós-moderno, deu origem a uma situação em que, na falta de qualquer referencial comunitário, tudo se dissolve, tudo se liquefaz. “A sociedade torna-se líquida”!

Quanta razão possuía George Orwell em “1984” ao dizer: “Todo mundo é louco, exceto você e eu. E pensando bem, tenho dúvidas quanto a você…”

O “aparecer” torna-se um Valor em si! Quando a crise de identidade e de valores a tudo precariza, a única maneira de adquirir reconhecimento social é “mostrar-se”.

E Sempre o “aparecer” se alia a um consumismo desenfreado, alucinado e predador.

Mas, atenção! Trata-se de um consumismo que não visa a posse de objetos de desejo capazes de produzir satisfação, pois quase que imediatamente se tornam obsoletos, levando o indivíduo de um consumo ao outro, em que “tudo que é sólido dissolve-se no ar” (Marx).

Por outro lado, assistimos a uma total fragilização de todos os Partidos Políticos como instrumentos de representação comunitária, de classes ou de agrupamentos sociais. Na sua grande maioria, transformaram-se em partidos de si mesmos, onde os caciques políticos, os mafiosos, os oportunistas, os militares aposentados ou não se encastelam e embarcarão numa ou noutra jangada que lhes oferecer maiores proveitos financeiros e eleitorais.

Neste conceito, assinala Bauman, perde-se até mesmo a certeza do Direito. A Justiça é sentida como uma possível inimiga. A balança sempre se flete em função de interesses não comunitários.

O conceito de democracia se esgarça até desaparecer sob formatos esdrúxulos de autocracias do grande capital.

Acontece que as ideologias, desde fins do século XX, se esgarçaram. As sociedades vivem um processo contínuo de precarização. Existem, é verdade, movimentos de indignação, a maior parte dos quais sem engajamento político.

Bauman nos alerta que estes movimentos sabem o que não querem, mas não o que realmente aspiram! E com isso tornam-se abertos ao oportunismo fascista.

A sociedade líquida como é “confessional”! Tem por seus principais instrumentos as redes ditas sociais. E pela primeira vez, em toda a história da humanidade os espionados colaboram com os espiões, nos alerta Eco, facilitando os trabalhos destes, sendo que esta rendição os satisfaz pois os tornam visíveis, visíveis até mesmo como criminosos ou imbecis.

Afinal, onde nos conduzirá, afinal, a sociedade líquida?

O desastre ecológico, a destruição da antroposfera já nos bateu à porta, prometendo ser devastador! A Covid 19 demonstrou sobejamente como somos frágeis! Ao mesmo tempo a fome assola mais de metade da humanidade, as guerras localizadas se sucedem.

No trono global não mais de mil homens trilhardários! Mais da metade da humanidade vive no mais completo desespero e abandono.amuel Bellow disse certa feita que, em épocas de loucura, acreditar que se é imune à loucura é também uma forma de loucura!

Ainda não chegamos ao auge da sociedade líquida! Afinal, a Inteligência Artificial só fez despontar um “Admirável mundo novo”!

Vivemos uma época semelhante ao desespero do final da Idade Média.

Afinal, onde aportaremos?

Uma resposta

  1. Precisamos transformar o conceito de loucura social numa disciplina cientifica, cujo nome poderia ser “esquizofrenia social” que contribui de forma eficaz para o desmoronamento dos sistema econômico, social e politico que está em fase de esgotamento.

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