A liberdade, o existir e o monstro de três cabeças.

O homem está absolutamente só no universo. Deus, se é que existiu um dia, abandonou sua própria obra a si mesma, ou, quem sabe, de tão velho, já morreu.

Cada um de nós, em sua essência, no seu âmago é, irremediavelmente, solitário. Iremos morrer um dia e o ficará de nós será apenas e tão somente indeléveis pegadas nos caminhos tortuosos da consciência e da inconsciência daqueles que amamos um dia. Absolutamente nada mais.

Acontece que o homem simplesmente existe. Nada para cada um de nós está determinado, tudo o que somos, tudo o que nos aconteceu ou acontecerá foi e será fruto de nossas decisões, ações e das circunstâncias que nos cercam. Afinal, não somos como os animais, pois cada qual é absolutamente “inocente” de seu destino.

De tal modo, que nossa vida, a existência de cada um de nós, é um processo que encetamos, na realidade em que vivemos. Dentre as inúmeras possibilidades que possuímos e que se abrem a cada momento, escolhemos ou rejeitamos x, y ou z.

Afinal, cada ser humano possui TODA A LIBERDADE PARA ESCOLHER, e destas escolhas resulta a essência do que somos, das relações que construímos, da identidade com que nos vemos.

E nunca nos esqueçamos de que NÃO ESCOLHER também é ESCOLHER!

E é essa LIBERDADE que nos torna irremediavelmente responsáveis por TUDO O QUE FAZEMOS! Mesmo assim, ela é contingente. Muitos fatores externos interferem na realização da LIBERDADE. Devemos, entretanto, assumi-los a cada passo, até aí caminha a nossa responsabilidade perante a vida.

O viver, existir, só pode ser agradável se aquela LIBERDADE for assumida; se a responsabilidade por cada ato nosso for assumida a cada instante. Pois se em uma determinada circunstância deixamos de exercer a liberdade para agirmos, renunciamos igualmente ao nosso papel de agente do destino e nos transformamos EM SEU OBJETO.

Devemos, a cada momento vivido, ter consciência que sempre está em NOSSO PODER ALTERAR NOSSA EXISTÊNCIA, pois nossa liberdade só cessa com a morte. A busca da felicidade passa por assumirmos que absolutamente nada é regido por um “destino” alheio a nós.

Nós construímos cada degrau da escada de nossa vida.

Enfim, para o bem ou para o mal somos os únicos responsáveis por nós mesmos!

Assim vejo o homem. É muito duro, áspero, não há concessões e nem ilusões. Mas viver a LIBERDADE, saber-se responsável por cada ato e nada esperar além de nossa própria ação. Nisto, para mim, consiste a beleza do viver.

A possibilidade da independência pessoal e a liberdade.

Nunca podemos deixar de lado um preceito do qual decorrem a independência pessoal e liberdade: Em qualquer sociedade, ambas só se sustentam com dinheiro e algum conforto, pois a fome, a pobreza escravizam o ser humano aos seus instintos!

Por isso mesmo, devemos respeitar as pessoas, não necessariamente às suas crenças. E tenho claro comigo mesmo que não se pode obrigar a ninguém viver e pensar conforme outros. Este é outro esteio da liberdade individual.

Liberdade absoluta e o monstro de três cabeças.

O berro por liberdade absoluta e amor à pátria nada mais são que máscaras para os canalhas, sempre fascistas em seu comportamento. Shoppenhauer disse que “em sua maioria os homens esperam apenas que as circunstâncias lhes deixem a passagem livre para a sua crueldade e grosseria e lhes permitam ser simplesmente brutais”.

Quando o Zaratrusta de Nietzsche proclama a morte de Deus, ele adverte o homem das consequências da dessacralização do universo e do ser humano.

E, no pós-moderno em que vivemos, que nada mais é que a decorrência de um século de fraturas, de desumanização, de destruição em massas, o monstro de três cabeças (o racionalismo, o individualismo e o materialismo) terminará por destruir a si mesmo.

Arendt disse há 50 anos: “a crueldade do século XX é insuperável…” O XXI apenas acrescenta: Liberdade para todos é feita para que os lobos comam os cordeiros.

2 respostas

  1. TEmos outra visão: Não existe o Livre Arbítrio – Epicuristas , Espinoza, Bergson, Nietzsche, Deleuze, Guattari, etc.
    Liberdade é Contra Efetuar os acontecimentos, que são externos a nós, e independem de nossa vontade.

    Att.

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