Thomas Mann: antiga história de terror, que se repetiu no século XX.

Eger é uma cidade encantadora do norte da Hungria, capital do condado de Heves, perto do rio Eger, centro da região vitivinícola mais importante do país. Famosa estância termal, a cidade é conhecida por seu castelo, por suas fontes, pelos edifícios históricos e pelos vinhos.

Thomas Mann nos conta uma história de terror, relato do caso de uma noite sangrenta vivida pela primeira vez no final da Idade Média.

Uma matança de judeus a que se entregou a população de repente, como num espasmo e da qual velhas crônicas dão notícias.

Eram muitos os filhos de Israel que viviam em Eger, em várias ruas que a eles pertenciam, onde ficava também uma de suas mais famosas sinagogas, assim como a Universidade Judaica, única do Império Germânico de então.

Pois bem, certo dia um monge descalço, que sem dúvida possuía fatais dotes de orador, descreveu, do púlpito, “A Paixão de Cristo” de forma causar a mais nobre compaixão popular, apresentando de maneira excitante os judeus como causadores de toda desgraça.

Foi quando um soldado graduado da plateia, inclinado à ação e fora de si, pulou para o altar, agarrou o crucifixo e com um grito de “quem for Cristão que me siga”, acendeu a chama na inflamável multidão!

E eles o seguiram, lá fora se juntaram a canalhas de todas as classes sociais e iniciaram um saque generalizado, e causaram uma mortandade maldita nas ruas pertencentes aos lares e comércios judeus.

Os desgraçados moradores foram encurralados em uma certa arruela estreita entre duas de suas ruas principais e ali foram degolados de tal forma que o sangue fluía como um arroio naquela ruela que ainda hoje se chama “Rua do Assassinato”. 

Desta matança escapou somente um judeu, pois ele escondeu-se, comprimindo-se numa chaminé, ocultando-se ali até ser restabelecida a calma do populacho e seus instigadores sentirem-se satisfeitos.

O Imperador do Sacro Império Romano-Germânico era Carlos IV.

A cidade primeiro comemorou, depois, arrependeu-se quando foi castigada pelo rei Carlos IV.

Foi forçada a reconhecer, solenemente, como cidadão aquele único judeu sobrevivente do massacre de Eger.

Acontece que esse cidadão havia perdido mulher, filhos, todos seus bens, amigos e parentes, toda a comunidade, para não falar da pressão sufocante da chaminé.

Estava nu e sem nada, mas agora ela cidadão de Eger !

“Os homens são assim, deixam se arrebatar voluntariamente e cometem as maiores crueldades, e depois, desfrutam do gesto de uma generosidade arrependida com a qual pensam pagar o ato criminoso, o que tem algo de emocionante e algo de ridículo”.

“Nesse caso, a presença da Majestade Romana salva a honra da humanidade ao iniciar uma investigação dos terríveis casos, impondo formalmente um castigo pecuniário as autoridades que comandavam Eger e que compactuaram tanto com o espólio quanto com a matança.

Passados 600 anos, a população judaica voltara a crescer e chegava a representar 30% da cidade de Eger. As tropas nazistas, aliadas a unidades húngaras, repetiram as “façanhas” do passado. Todos os bens judaicos foram “confiscados” e 95% da população levada para o campo de extermínio de AUSCHWITZ.

Referência: Mann, T.. Carlota em Weimar, Ed. Nova Fronteira.    

2 respostas

  1. Carece que anos ou melhor séculos depois o povo húngaro decidiu-se ou foi imposta essa decisão a lutar ao lado dos nazistas nessa 2a guerra mundial Justiça seja feita…

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