A China até 1899 era uma peneira aberta a todos os Impérios do planeta. Por exemplo, os japoneses dedicavam-se ao comércio de escravas sexuais, os ingleses, ao comércio do ópio produzido na Índia, os franceses e os ingleses trocavam bugigangas por seda e porcelanas de enorme valor no ocidente.
Por seu lado, o Imperador e a Corte chinesas preferiam permitir que a intervenção imperialista sugasse todos os esforços de um povo escravizado e exaurisse o país, que reagir aos invasores.
Então surgiu uma sociedade secreta, conhecida como “A Sociedade dos Punhos Harmoniosos e Justiceiros”, para lutar contra os imperialistas. Organizaram-se e mesmo armados apenas com os punhos e pedaços de madeira, posteriormente armas aprendidas dos invasores, e iniciaram a revolta que ficou conhecida como a “Guerra dos Boxers”. O conflito durou dois anos.
Os boxers realizaram ações armadas como cortar linhas telegráficas, destruir ferrovias e perseguir os já conhecidos missionários cristãos, sempre agentes da exploração em “nome do Nazareno”. Apesar de a organização ser pequena, os participantes dessa revolta atacavam tudo aquilo que poderia representar a dominação dos ocidentais em seu país.
As nações imperialistas, então, pela primeira vez na História organizaram um exército com mando unificado para repressão aos boxers.
Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, França, Japão, Itália e Rússia enviaram navios e soldados para tomar a cidade de Pequim, o principal foco dos conflitos. A invasão estrangeira – ocorrida no final de maio de 1900 – foi respondida com um ataque suicida dos boxers à pista de corrida dos cavalos estrangeiros e levou ao isolamento do bairro das Embaixadas.
Entre os meses de julho e agosto, as tropas estrangeiras lutaram contra os boxers e os membros do exército imperial que apoiavam o levante.
Após sufocarem a revolta, as nações imperialistas fizeram uma série de exigências em troca da preservação dos territórios e do Imperador e sua Corte: o governo chinês se viu obrigado a pagar uma pesada indenização em ouro e liberar novos portos às embarcações estrangeiras. Além disso, os imperialistas impuseram a sua autoridade na capital do país e proibiram os chineses de importarem armamentos.
Uma narrativa de Gunter Grass, inserida em “Meu século”*.
O imperador alemão Guilherme II, no embarque de tropas para a China, assim se dirigiu a elas:
“Ao chegarem, que fique claro: não haverá perdão, não haverá prisioneiros”. Contou então a história do rei Átila e suas hordas de hunos. Teceu elogios aos bárbaros hunos, apesar da devastação e matanças promovidas no século V, com a destruição do império romano.
Ao final gritou: “Abram o caminho para a cultura.”
E narra Grass. E assim aconteceu. Não se fizeram prisioneiros. Os boxers que se renderam foram todos ou fuzilados ou decapitados na Praça da Paz Celestial.
Mais de mil boxers rendidos e massacrados. Amarrados pelos rabichos de seus cabelos, os condenados imploravam para que a metralha Match dos americanos e os fuzis dos alemães os abatessem, ao invés da facas afiadas dos japoneses.
O século XX foi inaugurado com muito sangue chinês derramado pela quase impossível aliança de todos os imperialismos contra um povo explorado!
Ref.: Grass, G. Meu século. Ed. Record.
3 respostas
Todo imperialismo se resume no “olho gordo do outro”… A praca da Paz Celestial só tem Paz no nome …Os poderosos se aliam não para ajudar o mais fraco porém para ficarem mais fortes e escravizarem o outro…e assim caminha a humanidade através dos séculos
Excelente texto!
A “Revolta dos Boxers” foi o início da resistência contra os saqueadores europeus que, hoje, estão de joelhos diante de uma China rica e poderosa.