Sacha Petcherski, o guerreiro que não morreu! Militar digno de respeito!

O jovem músico nas horas vagas, contador e eletricista profissional nascido em Kremenchuk, Ucrânia, foi incorporado ao Exército Vermelho assim que a URSS foi invadida pela Alemanha nazista, em 1941.

Incorporou-se, na verdade, a uma luta de vida e morte sem se deixar destruir nunca!

Em poucos meses de guerra salvou seu comandante de batalhão, abafando com sacos a explosão de uma granada. Não lhe foi dado nenhum reconhecimento. Disse um de seus companheiros de combate: “Se Sacha não é um herói, quem seria? ”

Após diversos combates foi promovido a oficial e participou da resistência ao cerco de Moscou. Sua unidade foi toda abatida, exceto ele, que foi feito prisioneiro. Passou, então, por diferentes campos de concentração, até que contraiu tifo, o que o abateu durante sete meses. Assim que recuperou a saúde, em maio de 1942, organizou uma fuga com quatro companheiros do campo de trabalhos de Borissov, mas foi recapturado. Novamente, sua habilidade como eletricista salvou-o da execução, à qual seus companheiros foram submetidos. Foi enviado a Minsk.

Em Minsk, outro campo de trabalhos forçados para a indústria eletrônica dos alemães, um médico nazista o inspecionou e viu que ele possuía circuncisão. Admitiu ser judeu.

Estava condenado à morte.

Ao ser transportado a Sobibor (campo de extermínio na Polônia), o tenente Petcherski disse: “Eu penso em quantos círculos havia no Inferno de Dante. Parece que nove. Por quantos já passei? Ser capturado pelos nazistas, campo de Viazma, Smolensk, Borissov, Minks e agora finalmente estou aqui. Qual será o próximo? ”

A fuga de Sobibor.

Pois o judeu ucraniano Sacha comandaria a rebelião dos prisioneiros do campo de extermínio, naquilo que passaria para a história como a maior fuga de prisioneiros de campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, em outubro de 1943.

Já haviam sido exterminados mais de 250 mil judeus no campo de Sobibor! Os SS simplesmente não acreditavam que o “povo inferior” pudesse se sublevar. Pois Sacha, em menos de 21 dias assumiu a liderança dos condenados à morte. Planejou uma fuga armada. Gustav Wagner (1), o SS comandante do campo, saiu de férias. Aproveitando um dos previsíveis momentos de embriagues dos nazistas, com armas brancas improvisadas, eles executaram alguns guardas e apossaram-se de suas armas. Abriram à bala a fuga do campo.

Então, aproximadamente, 600 judeus condenados conseguiram fugir para as florestas e pelo menos a metade deles obteve a liberdade. Alguns buscaram a incorporação a comando guerrilheiros de resistência aos nazistas.

Sacha Petcherski fugiu rumo à Bielorrússia onde incorporou-se à guerrilha. Combateu até fins de 1944, quando o Exército Vermelho liberou a área.

No entanto, ele e seus companheiros de guerrilha foram colocados pelo Exército Vermelho em batalhões “especiais”, por serem “suspeitos de traição”, já que haviam logrado fugir ao inimigo, o que era considerado uma improbabilidade!

Sacha concordou em ser usado como bucha de canhão para as ações das quais poucos retornavam vivos: a limpeza de campos minados deixados pelos nazis em fuga.

Pois Sacha sobreviveu também a isto e com tal denodo e dedicação que foi promovido a capitão, com direito a medalha de bravura. Antes do final da guerra, o comandante de seu batalhão, ao ouvir seus relatos sobre Sobibor e arriscando a própria cabeça, enviou-o a Moscou para testemunhar ante o “Comitê Antifascista Judeu”.

Com o final da guerra, Stalin não teve mais porque obnubilar seu antissemitismo. Em 1948, Sacha Petcherski, que conseguira emprego como administrador de teatro, é demitido e preso, suspeito de “atividades antissoviéticas”.

A sobrevivência.

O assassinato em massa dos judeus no campo de Sobibor constituiu um dos principais julgamentos de nazistas em Nuremberg. O Tribunal Internacional chamou Petcherski  como testemunha de acusação, mas o governo soviético não permitiu sua saída da prisão. Ficou encarcerado até a morte de Stalin em um “gulag” de trabalhos forçados. Sobreviveu também a esta prova!

O governo soviético também o impediu de participar como testemunha do julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann, em Israel.

Somente em 1956, quando do julgamento em Moscou de 11 guardas ucranianos de Sobibor, lhe foi permitido testemunhar contra os genocidas. Todos eles foram condenados à morte.

Um de seus maiores desgostos ocorreu em 1987, nos narra sua filha, quando um dos carrascos de Sobibor, do qual se recordava como assassino sádico de crianças, foi a julgamento na Polônia. A KGB impediu que ele saísse da URSS.

Aquele que somente à velhice não resistiu.

Em 1953, depois de libertado, Sacha foi obrigado a residir em Rostov, onde voltou a dedicar-se ao teatro e à música e a escrever suas memórias, aquilo que fez por todo o restante de vida, pois somente a velhice poderia batê-lo!

E foi pobre esquecido que Sacha Petcherski morreu em janeiro de 1990, aos 82 anos de idade, sem jamais ter recebido qualquer homenagem ou recompensa por todo o heroísmo de uma vida.

Somente em 2007, uma pequena placa memorial foi colocada no prédio onde viveu seus últimos dias, em Rostov.

Em Tel Aviv, entretanto, foi erguido um Memorial em sua homenagem.

E, em 1987, foi produzido o filme “Fuga de Sobibor”, sob a direção de Jack Gold.

Referências:

  1. Gustav Wagner, após a guerra, com apoio do Vaticano, homiziou-se no Brasil, na cidade de Atibaia. Preso, a ditadura militar negou-se a extraditá-lo. Sua história está disponível em https://proust.net.br/o-caso-do-genocida-gustav-wagner-e-a-fatidica-cidade-de-atibaia/
  2. Grossman, V. A estrada. Alfaguara, ed.
  3. Ehremburg y Grossman. El libro negro de Sobibor. Gutemberg, ed.

3 respostas

  1. Fiquei emocionada com essa coragem e bondade que o moveu em todas as suas ações.Não vou esquecê-lo. E muito obrigada em informar-me desse verdadeiro herói, e ainda mais judeu, lutando contra aquela Rússia de Stalin.
    Carlos, você sabe que a família da minha mãe foi toda eliminada. Na cidade de Ostrowiec. Quando fui à Varsóvia para expor no Museu de lá, meus amigos de Cracóvia me levaram até aquela cidade. Eu tinha o endereço da casa deles. Numa rua linda, de frente para o jardim praça principal daquela cidade. No local, cuja casa(mansão) existiu, é agora um estacionamento público. Na prefeitura, meus amigos artistas de lá encontraram registrado o nome do meu avô, Mendel. Não voltarei lá,

    1. Anna, como é trágica s história da Humanidade. Você não havia me contado que havia ido ao lar de seus ancestrais maternos. Imagino a dor, mas sei que é catártico também. Anna, há algum tempo te enviei um email pedindo seu endereço. Desejo te mandar um livro de minha autoria sobre literatura russa. Aguardo. Forte abraço.

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