Países são destruídos quando se entregam à moral da gangue.

Passado quase um século, ainda nos surpreendemos hoje de como os alemães puderam ter permitido que as gangues nazistas fossem tão longe, cometessem crimes de tais proporções que, afinal, quase levou à destruição de seu próprio país! E a uma hecatombe mundial, que ceifou oitenta milhões de vítimas.

Cada vez que Hitler vociferava sobre o Tratado de Versalhes, que encerrara a Primeira Guerra, ele o chamava de Diktat (imposição), uma ordem dos inimigos e contra ele fazia um chamamento à guerra.

Todos os slogans que motivaram as massas alemãs a seguirem a moral da guangue hitlerista, excetuando-se apenas os dirigidos contra os judeus, podem ser derivados do “Diktat de Versalhes”: o Terceiro Reich, Sieg-Heil ( salve a vitória). “A derrota vai se transformar em vitória.” “O exército proibido ( a milícia) vai ser formado”.

E tudo em Hitler e em sua guangue sempre teve um efeito duplo, falso, tanto os sinais como a palavra.

A cruz gamada tem um movimento rotatório, cuja ameaça se cumpriria: os membros dos demais partidos seriam amarrados à roda da tortura. A palavra buscou na cruz cristã as características cruéis e sanguinárias, como se fosse bom crucificar! As gamas, os ganchos anunciam como os adversários serão caçados, derrubados. Além de simbolizarem as batidas militares dos calcanhares. De todo modo, a cruz gamada reúne uma ameaça de castigos cruéis com uma capciosa malícia e uma advertência de disciplina militar.

Durante a inflação alemã, Hitler encontrou como objeto os judeus. Eles eram o ideal para representar este papel: sua antiga ligação com o dinheiro, para cujos movimentos e flutuações eles sempre tiveram faro extraordinário. Primeiro foram tratados como maus, perigosos, como inimigos; depois foram sendo mais e mais desvalorizados; quando já não se tinham mais judeus suficientes na Alemanha, eles passaram a ser coletados nos países conquistados, tratados com escravos e, afinal, considerados literalmente como insetos nocivos, que podiam ser exterminados aos milhões.

Uma década antes, em 1914, o ex-socialista Mussolini anunciava a “santa revolução da anarquia”, o fascismo, declarando-se inimigo de todos os cristianismos.

O deus de Hitler, por outro lado, era um deus de comício, mistura de Walhala e Deus cristão.

Na verdade, Hitler era um homens de ação, sem nenhum tipo de fé, só acreditava no movimento da ação.

Se a revolução hitlerista era dinamismo puro, seu paradoxo insustentável foi querer fundar uma ordem mundial estável baseada em movimento perpétuo de negação. Mas a Alemanha de 1933 aceitou os valores degradados de um bando de homens, que lograram impo-los a uma nação.

Esquecida da moral de Goethe, a Alemanha escolheu e sofreu a moral da gangue. E a moral da gangue, em qualquer país, em todos os tempos, é triunfo e vingança, derrota e ressentimento, inesgotavelmente.

O nazi-fascismo ao exaltar as forças elementares do indivíduo, na verdade exaltavam as forças obscuras do instinto e do sangue, naquilo que o instinto de dominação produz de pior.

Primeiro Mussolini ,e depois Hitler, jamais poderiam prescindir de inimigos; seus companheiros de gangue eram dandis e desajustados, fracassados sociais como seus líderes, que somente poderiam ser definidos em relação a inimigos reais ou imaginários. Isto porque a verdadeira lógica desse dinamismo era a derrota total ou, de conquista em conquista, de inimigo em inimigo vencido, o estabelecimento do império do sangue e da ação em todo o mundo.

Junger, seu único filósofo, teve a visão de um Império anticristão, cujos fiéis e soldados fossem os próprios operários, pois o operário era um ser universal, tendo o contrato social sido substituído pela voz de comando. O operário alemão se transformando em capataz de escravos.

Qualquer que seja um Estado totalitário, este para viver e expandir-se necessita perpetuar seus inimigos e eternizar o terror.

A conquista para as massas internas, baseia-se em propaganda ou repressão, e, para o exterior, em guerra. Mesmo que seja, no presente do século XXI, a guerra de destruição da natureza.

Os intermediários políticos, organizados em partidos políticos, que em todas as sociedades são a salvaguarda da liberdade desparecem, dando lugar a um Jeová de botas, que reina sobre multidões silenciosas ou que gritam palavras de ordem. Não se interpõe entre o chefe e o povo um organismo de intermediação, mas justamente o aparelho, um Partido ou um Exército tipo Nazista, uma justiça que também calça coturnos, que é opressora.

Pois o fascismo e o nazismo são o desprezo e a morte da liberdade, o domínio da violência e a escravização do espírito.

Voltando a Junger, ele tirava de si próprio “que é melhor ser um assassino que um burguês”! Hitler sabia que não fazia diferença ser um ou outro, assassino ou burguês, desde que se acreditasse só no sucesso! “Quando a raça corre o risco de ser oprimida a questão da legalidade tem um papel secundário. Se a raça tem que ser sempre ameaçada para existir, nunca há legalidade.”

Hitler, no passado e Bush ainda ontem, Trump e Bolsonaro hoje, dizem que aos vencedores de uma guerra não se pergunta se tinham ou não falado a verdade. Goering diz no banco dos réus em Nuremberg que “o vencedor será sempre o juiz e o vencido, o réu”. Bolsonaro se considera vitorioso quando tripudia sobre a morte de quase 150 mil brasileiros pela Covid: “Eles não foram fortes”.

A lei militar, em tempos de guerra, pune com a morte a desobediência, e sua honra é a da servidão. Quando todos são militares, o crime é não matar se a ordem assim o exigir. A ordem militar jamais exige que se pratique o bem!

A doutrina fascista somente busca a eficácia. Se o homem for membro da gangue, não passa de um elemento a serviço do Chefe; se for inimigo, é produto de consumo, um escravo ou um subversivo a ser abatido!

O poder de mentir, denegrir, matar e aviltar salva a alma servil do antigo “Zé Ninguém” do nada. A propaganda, a mentira e a tortura são os meios diretos de desintegração; para os “convertidos”, o amálgama do criminoso cínico com a cumplicidade forçada.

Os crimes hitleristas não tinham equivalência na história porque até então, meados do século XX, nenhuma doutrina de destruição total jamais tInha sido capaz de apoderar-se das alavancas de comando de uma nação civilizada.

A liberdade alemã foi, então, cantada ao som da orquestra de prisioneiros nos campos de morte.

Mas muitas outras nações civilizadas apreenderiam com os carrascos alemães e reproduziriam de forma parcial a destruição em massa, em guerras de dominação neocoloniais como as do Vietnã, da África e do Oriente Médio.

Os Estados Unidos imporiam ditaduras militares nos países da América Latina que, por algum tempo, adotariam os deuses da tortura e do aniquilamento de opositores revoltados e, mesmo, de simples resistentes à degradação sistemática da doutrina da eficácia.

E chegamos ao século XXI. E diversos países repetem a velha formulação do século XX: escolhem e sofrem a moral da gangue!

O exemplo mais claro para todo o mundo é o do Brasil.

Somos um país que encolhe interna e externamente, quer pela ação, quer pelo descaso de um governo parasitário; o próprio Presidente ignora o desastre ambiental e econômico, assim como faz com o genocídio sanitário provocado pela Covid.

Quando a seca predomina na Amazônia e no Pantanal , os desmatadores (contrabandistas de madeiras nobres, mineradoras, garimpeiros, grileiros e empresários vândalos do agronegócio) aproveitam para queimar os recursos naturais abrindo espaços ao gado, à soja, à exploração de minerais. Mais de 2 milhões de hectares de florestas, fauna e flora, foram incinerados em menos de 2 anos.

Ademais do desastre ecológico, nosso patrimônio cultural está condenado à destruição. Aliás, o empobrecimento generalizado da população é nada mais que o contraponto do enriquecimento da gangue que se apoderou do poder, e que nos levará ao mesmo desastre a que os alemães e outros povos já foram conduzidos.

O deus deste Messias de palanque é um deus de fancaria, de rezas televisivas, de pastores malandros e de multidões infantilizadas que colocam tiras escritas “Jesus” na cabeça, enquanto fazem das mãos arminhas de tiro. Um deus regressivo do preconceito, do negacionismo e do anticientificismo.

O Brasil de 2018, assim como a Alemanha de 1933, aceitou os valores degradados de homens que lograram impo-los a uma nação.

Caminhamos para a destruição e a barbárie. Ainda teremos energia e vitalidade social para reargirmos?

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