O verdadeiro mestre deste trio tem um nome: Roy Cohn. E este proto-fascista e canalha foi um dos mais influentes personagens políticos entre os anos 1950 e sua morte por AIDS, em 1986!
Pois Cohn foi o principal o mestre do golpista Steve Bannon, o orquestrador tanto da invasão do Capitólio, quanto da tentativa de golpe de estado no Brasil de 8 de janeiro!
Tanto o ex-presidente Donald Trump, como figuras máximas da máfia americana, como Salerno, Galante e Gotti, assim como centenas de sonegadores do fisco, dezenas de acusados por corrupção e mesmo envolvimento com drogas, foram, por décadas, clientes e amigos de Roy Cohn!
A formação do mestre golpista.
Nascido em uma família judaica do Bronx, em 1927, Roy Cohn era o único filho do Juiz Albert Cohn, influente membro do Partido Democrata. Em 1946, Roy formou-se em Direito, com a idade de 20 anos. Tentou, então, subornar o professor Lionel Trilling, para fugir à obrigação de esperar até a maioridade para poder ser admitido como profissional.
Roy Cohn já usara suas conexões familiares tanto para fugir do serviço militar e da guerra na Europa, assim como para, aos 21 anos de idade, obter posição no escritório do “United States Attorney”, em Manhattan.
Seguindo indicações e graças às ligações do pai Juiz, registrou-se no Partido Democrata, o que jamais constituiu qualquer empecilho para que Cohn fosse apoiado pela maioria dos republicanos influentes de sua época, incluindo dois Presidentes dos Estados Unidos.
Uma vez no “U.S. Attorney”, rapidamente tornou-se assistente do Procurador dos U.S.A. em Nova York, Irving Saypol. E foi como seu assistente que Cohn contribuiu para que um grande número de cidadãos americanos fossem acusados de cooperar com a União Soviética, na época da guerra fria.
O perseguidor de democratas, comunistas e simpatizantes.
Um dos primeiros perseguidos foi William Remington, funcionário do Departamento de Comércio, acusado de espionagem por Elizabeth Bentley, formalmente uma desertora da KGB (o que no futuro se demonstrou ser uma mentira). Pese a absoluta ausência de provas, Remington foi condenado à prisão por duplo perjúrio, ao não assumir sua ligação com o Partido Comunista Americano, que, aliás, ele não tinha! Passou oito anos preso.
Cohn encabeçou também a perseguição feroz aos onze membros da direção do Partido Comunista Americano, o qual atuava na legalidade, acusando-os de pregarem a derrubada violenta do governo, o que permitiu a aprovação do “Smith Act” pelo Congresso, com enorme prejuízo às liberdades individuais.
Julius e Ethel Rosemberg, vítimas inocentes executadas graças a ação de Cohn.
Roy Cohn, aos 24 anos de idade, teve um papel proeminente no julgamento, em 1951, do casal de cientistas Julius e Ethel Rosenberg, presos e acusados de espionagem.
Cohn foi o responsável direto pelo testemunho prestado pelo irmão de Ethel, David Greenglass. Greenglass testemunhou que havia recebido dos Rosenbergs, e mantido sob sua guarda, documentos secretos, roubados do “Manhattan Project”, o projeto nuclear americano.
Décadas após, Greenglass admitiu haver mentido em todo o seu depoimento para a proteção da própria vida e de sua esposa, sob a pressão de Cohn.
Por seu lado, Roy Cohn sempre teve grande orgulho do veredito que levou à morte os Rosenberg e, em sua autobiografia, relata que o Promotor Saypol fora por ele influenciado a pedir a pena de morte e que, pessoalmente, manobrara para que o juiz Irving Kaufman fosse nomeado para o caso, dado que ele já se dissera favorável à condenação à morte, ainda antes da nomeação.
O Macarthismo.
O modo como o julgamento dos Rosenberg levou-os, sem provas, à condenação capital, chamou a atenção de outro canalha, o diretor do FBI, Edgar Hoover e este recomendou Roy Cohn ao senador Joseph McCarthy. McCarthy contratou-o como seu conselheiro-chefe, evitando com isso acusações de possíveis motivações antissemitas nas suas investigações.
Roy Cohn, como assistente do Subcomitê Permanente do Senado, tornou-se o mais agressivo interrogador das pessoas investigadas por suspeita de comunismo.
Cohn preferia não realizar sessões abertas ao público e tal qual seu chefe, McCarthy, utilizava largamente interrogatórios “off-the-record”, de forma a agir sempre com relativa impunidade contra suspeitos e forçar delações, inclusive, as falsas. Este foi o surgimento daquilo que no Brasil se denominaram de as Delações Premiadas!
Em 1953, Cohen convidou seu amigo íntimo, David Schine, um propagandista anticomunista, para juntar-se ao staff de MacCarthy no Senado Americano, e ambos viajaram à Europa para avaliarem para o senador os rumos da “conspiração comunista mundial”. Mas na mira da dupla estava a BBC de Londres, considerada “pouco anticomunista” e os livros do norte-americano Dashiell Hammett, que eles queriam ver varridos das bibliotecas europeias, como já havia sido feito nos U.S.A..
Acontece que a Europa não vivia a histeria americana e os dois, desmoralizados em sua cruzada, logo tomaram o rumo de casa. “Seara Vermelha” e “Falcão Maltês” seguiram sendo “best sellers” na Inglaterra e no continente europeu.
A tentativa de infiltração e “bolsonarização” do Exército Americano.
Quando seu amigo e amante, o homossexual não assumido Schine, foi convocado para servir o Exército americano, Cohen envidou todos os esforços para que ele tivesse um tratamento “muito especial”. Ao não obter seus intentos de bônus, promoções e isenções de missões no exterior para o amigo, Cohen passou às ameaças como “a destruição do Exército”.
A partir desse conflito, acumularam-se as acusações sobre a presença de comunistas no Departamento de Defesa, e o Comitê de McCarthy levou altos oficiais do Exército às suas audiências públicas, em 1954.
Não deu certo!
Somente então, o Comando do Exército Americano animou-se a acusar Cohn e McCarthy pelo uso de pressão indevida em nome de Schine. Entretanto, McCarthy e Cohn contra-atacaram dizendo que o Exército mantinha Schine como seu “refém”, em uma tentativa de silenciar as investigações sobre os comunistas infiltrados nas Forças Armadas americanas.
Os resultados das audiências terminaram por evidenciar as articulações, mentiras e má fé de Cohn, e estes foram fatores determinantes na desgraça em que McCarthy cairá logo após.
O advogado e parceiro de criminosos e golpistas.
Cohn é demitido do Senado e tornar-se-á advogado privado pelos próximos 30 anos. Um advogado de criminosos e de trapaceiros, bem como conselheiro de dois Presidentes Norte-americanos.
“Nos dizeres de seu biógrafo, Cohen sempre advogou dentro de uma matriz de crimes e de conduta antiética”.
Entre seus clientes principais clientes estiveram o ex-presidente Donald Trump, acompanhado de figuras da máfia como Tony Salerno, Carmine Galante, e John Gotti .
Quando aceitava um caso, Cohen dizia claramente: “Pouco me importa qual é a lei, diga-me quem é o juiz”.
Sua preferência era claramente por clientes de reputação duvidosa e bandidos e, por isso, não somente achava conveniente como tinha prazer em dar a entender que poderia fazer “desaparecer” pessoas. Assim mesmo, são diversos os exemplos de que ele traía, sem o mínimo escrúpulo, seus próprios clientes. Era escroque pelo prazer de sê-lo.
Modus operandi nos parece bastante familiar: clamar vitória, nunca admitir a derrota.
Gabava-se de que seus clientes o contratavam por sua capacidade para assustar os inimigos. Orgulhava-se de seus truques para sonegar impostos: não tinha propriedades nem contas bancárias, passava todos seus gastos ao escritório que operava à sombra, com o nome de outros como titulares.
Um dos mestres e inspiradores de Trump, Steve Bannon e de Bolsonaros!
Articulador do golpe militar do Chile, em 1973.
Na década de 1970, tornou-se importante personalidade nova-iorquina, mantendo laços estreitos em círculos políticos conservadores; afiliado ao Partido Democrata vangloriava-se de haver prejudicado a campanha de seu próprio partido em 1972, quando ajudou a eleger Nixon. Como conselheiro informal de Richard Nixon, influenciou a política americana de promover golpes militares na América Latina.
Foi um dos articuladores do Golpe Militar de Pinochet, no Chile.
Sócio do paraíso da cocaína.
No dizer de Hobsbawm, até mesmo antigos liberais reconciliaram-se com o homem que poderia introduzi-los no paraíso da cocaína da “Boite Studio 54”, da qual era sócio. “Foi famoso como um influente e, sobretudo, como um perigoso intermediário entre a polícia e o crime, um aplicador de golpes e extorsões”.
Sendo judeu, juntou-se aos antissemitas; homossexual notório, levava seus namorados a reuniões onde se pregava contra o direito ao homossexualismo.
O amigo íntimo do casal Reagan e a AIDS.
Nos anos 1980, tornou-se amigo de Ronald e Nancy Reagan, frequentando-os na Casa Branca.
Em 1984, Cohn foi diagnosticado com AIDS e tentou manter sua condição em segredo durante o tratamento experimental com drogas. Participou dos primeiros ensaios clínicos com AZT, furando, como sempre, uma longa fila de pessoas que ansiavam por seus efeitos medicinais. Entretanto, Cohen insistiria até mesmo no dia de sua morte, que sua doença era “câncer de fígado”.
No hospital de Besteda, onde esteve internado, recebeu do Presidente dos USA o seguinte bilhete: “Nancy e eu temos você em nossos pensamentos e orações”.
A morte e queda de um mestre da canalhice.
“Pouco antes de agosto de 1986, quando veio a falecer de complicações da AIDS, foi, finalmente, expulso da classe dos advogados de Nova York, cujos princípios éticos, ainda que muito flexíveis, conseguira forçar em demasia” (Hobsbaum).Ele foi condenado, entre outras coisas, por ter entrado no quarto do multimilionário Lewis Rosenstiel, então senil e agonizante, e, segurando sua mão, tê-lo obrigado a assinar um documento que o nomeava como responsável por seus bens.
Quando Roy Cohn morreu, em 2 de agosto, até mesmo a Casa Branca de Reagan manteve-se em silêncio. De mais a mais, deixara uma dívida de mais de um milhão de dólares somente para com a Receita Federal Americana!
As dívidas de um de seus clientes, Trump, ultrapassam hoje um bilhão de dólares!
Um dos canalhas-símbolo do século XX, mestre dos canlhas do século XXI, Cohen não poderia esperar encontrar na morte, o esquecimento por seus inúmeros crimes. Ademais, formatou uma trupe de seguidores de seus próprio nipe: Trump, Bolsonaro e Bannon!
Cohen foi também objeto de diversas representações artísticas, dentre elas as mais importantes: “Angels in America” e “Cidadão Cohen”, interpretadas no cinema por Al Pacino e James Woods, respectivamente.
“Where is my Roy Cohn? ”, de 2019, é o último documentário sobre o inspirador dos golpistas dos séculos XX e XXI.
Referências:
Geist, William E. (April 8, 1984). “The Expanding Empire of Donald Trump”. The New York Times Magazine. New York City. Retrieved November 4, 2019.
Scott, A.O. (September 19, 2019). “‘Where’s My Roy Cohn?’ Review: A Fixer’s Progress”. The New York Times. Retrieved November 4, 2019. Schaefer, Stephen (September 19, 2019). “Documentary spotlights infamous fixer ‘Roy Cohn'”. Boston Herald. Retrieved November 4, 2019.
2 respostas
A comparação de graves desvios do macarthismo com as delações premiadas utilizadas recentemente não é razoável. A prova disso são alguns bilhões retornados ao Brasil.
De fato deve haver cuidado e controle, mas trata-se de um instrumento colocado no ordenamento jurídico brasileiro, a ser usado de forma transparente. Não é possível coexistirmos com processos infindáveis e que terminam nulos, por decurso de prazo, morte dos envolvidos etc.
Mau uso tem que ser denunciado mas não deve se condenar o estatuto da delação premiada.
Caro Sérgio, em tese concordo consigo. No entanto, a comparação é consistente no que toca a dezenas de delações premiadas realizadas na corrupta vara de Curitiba para condenações sem o necessário provatório do delatado. Tal qual no macartismo! Abs