O herói polonês que se fez prender como judeu num Campo Nazista, para lá organizar a resistência!

As expressões heroicas de resistência dos “internos” dos Campos de Concentração nazista de Auschwitz estão entre as menos conhecidas de nossa história. Acontece que os nazistas trabalharam para acobertá-los e destruir provas.

Este, felizmente, não é o caso de Witold Pilecki, um dos heroicos fundadores do Exército Livre de Resistência Polonesa, formado durante a ocupação nazista da Polônia.

O Exército de resistência polonesa, foi uma das forças armadas clandestinas mais fortes e melhor organizadas na Europa sob domínio nazista. No momento de sua capacidade máxima de combate (verão de 1943) as forças do Armia Krajowa eram compostas por aproximadamente 380 mil homens, incluindo 10 mil oficiais.

Em janeiro de 1943 foi estabelecida uma nova unidade militar, a ’’Kedyw ’’ que encarregada de ações de sabotagem e contraespionagem. Seu chefe, o Capitão Witold Pilecki.

Pessoalmente incumbiu-se da inacreditável missão de se passar por um judeu e deixar-se encarcerar no Campo de Extermínio de Bikernau, em Auschwitz!

Ali chegando, organizou a resistência interna criando um movimento subterrâneo chamado União de Organização Militar (Związek Organizacji Wojskowej – ZOW), que chegou a incorporar ao redor de 500 combatentes.

Desenvolveu também uma rede de informação que se comunicava por rádio com os aliados graças a um transmissor de ondas-curtas, escondido no Bloco 11, e que enviava notícias diretamente para o governo polonês no exílio, em Londres.

A resistência organizada editou um jornal, The Auschwitzer Echo, impresso e distribuído secretamente e, durante algum tempo conseguiu-se que fosse enviado para movimentos de resistência na Cracóvia!

A ZOM organizou também a fuga de prisioneiros. Fugitivos levavam notícias dos extermínios em massa, como, por exemplo, as das centenas de milhares de judeus húngaros executados. Ademais, esses grupos organizados escreviam notas, bilhetes e realizavam furtivamente fotos dos crematórios e das câmaras de gás e os “plantavam” nas áreas ao redor dos campos e subcampos, esperando que pessoas, um dia, os encontrassem.

Muitas fotos que chegaram até nós, tiveram essa origem.

Sob o comando do Capitão Pilecki, A ZOW chegou a planejar uma tentativa de levante geral em Auschwitz, coordenado com um ataque aéreo aliado e um cerco externo por terra a ser realizado pela Armia Krajowa.

Seu plano de ataque dos Aliados, entretanto, foi considerado muito arriscado pelos ingleses e americanos, que, ademais, não quiseram acreditar em suas histórias sobre Auschwitz, que consideraram “muito exageradas, fabulosas, extremistas”.

Neste meio tempo, a Gestapo trabalhava para descobrir os integrantes do ZOW e conseguiu identificar e matar muitos deles.

Pilecki, então, decidiu fugir do campo na esperança de convencer pessoalmente os líderes da resistência de que um ataque a Auschwitz era possível. E conseguiu escapar numa noite de abril de 1943, após executarem dois policiais das SS e se apoderarem de suas fardas.

Em liberdade, escreveu o “Relatório Witold”, o primeiro relatório de inteligência dos Aliados sobre os acontecimentos dentro do campo de concentração de Auschwitz.

Entretanto, somente em agosto de 1944, aviões britânicos e norte-americanos finalmente bombardearam as fábricas de combustível líquido e borracha sintética da IG Farben nos arredores de Auschwitz III – Monowitz.

Não por motivos humanitários, mas devido à sua importância no esforço de guerra nazista para a construção das Bombas V2.

A Polônia somente foi libertada pelo avanço inexorável do Exército Vermelho em janeiro de 1945. No dia 27 de janeiro de 1945, após um duro confronto, as tropas soviéticas puseram fim ao reinado de terror das câmaras de gás e crematórios de Auschwitz.

Já o Capitão Witold Pilecki, fora de Auschwitz, voltou à luta contra a ocupação nazista. “Sua primeira missão foi eliminar atiradores alemães que, muitas vezes à paisana, atiravam contra membros da resistência”, lembra seu sobrinho Andrzej.

Participou do levante de Varsóvia de 1944, com o qual a resistência tentou recuperar a capital polonesa tomada pelos nazistas.

A tentativa falhou e o Capitão Pilecki foi novamente preso pelos nazistas, que o levaram em outro campo de concentração, o dos prisioneiros de guerra.

As tropas aliadas o libertaram no ano seguinte, quando a derrota final de Hitler já era inevitável.

Mas sua libertação não significou o fim das lutas de Pilecki, que ao final da guerra, embarcou na luta política contra o governo alinhado à U.R.S.S. que, depois da guerra, se instalou em seu país sob a tutela de Josef Stálin.

Em 1947, as autoridades polonesas o prenderam, sob acusação de espionagem para a Inglaterra. Após um julgamento simulado e secreto, ele foi condenado à morte.

As informações sobre sua prisão e destino foram segredo de Estado na Polônia comunista até 1989. Nem mesmo a família fora informada de sua condenação à morte.

Seu nome é lembrado até hoje na Polônia como símbolo de humanidade, de verdadeiro heroísmo e luta pela liberdade.

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