Josef Mengele, o “Anjo da Morte” como era conhecido entre seus próprios colegas, foi um dos médicos nazistas que conseguiu fugir após a derrota na Segunda Guerra e, ao final, viveu no Brasil durante dezessete anos sem ser importunado, morrendo num acidente na praia de Bertioga!
Ele era o criminoso mais procurado em todo o mundo! O governo de Israel estabelecera a recompensa de US$ 3,4 milhões ele, ou vivo ou morto!
Localizado em Auchwitz ( território polonês), no subcampo de extermínio de Bikernau, o Bloco 10 fora destinado exclusivamente para a realização de experimentos ditos “científicos” pelas autoridades de ocupação nazista. Suas cobaias foram os judeus, ciganos, anões, democratas, comunistas e, até mesmo, alguns criminosos comuns.
Equipes médicas foram formadas para atuarem no Bloco 10. Doutores com Carl Clauberg e Kurt Heissmeyer foram alguns dos mais conhecidos a usarem cobaias humanas tanto para testarem suas teses, como para experimentos sobre toxicidade de novas drogas para a indústria farmacêutica.
A empresa farmacêutica Bayer foi um dos laboratórios participantes da iniciativa nazista. Entregou quatrocentos mil marcos para o regime de Hitler. A Bayer, inclusive, comprou prisioneiros em Birkenau para servirem no teste de novas sulfas em seus próprios laboratórios. Calcula-se que tenha sido responsável diretamente por mais de duas centenas de judeus que faleceram por falência renal, fora os assassinatos cometidos no Bloco 10.
Dentre todos médicos do Bloco 10 sobressaia uma figura: a de Joseph Mengele, o “Anjo da Morte”. Entre 1943 e 1944, Mengele realizou experiências monstruosas em mais de mil e quinhentos prisioneiros!
Nessa crônica, dedicada ao “Anjo da Morte”, vamos também falar um pouco sobre o trabalho de outros médicos que tinham, como ele, a excitação e o prazer com a morte de seres humanos.
Carl Clauberg nasceu em 1898, em uma família de artesãos. A duras penas estudou medicina e finalmente chegou ao posto de médico chefe na clínica ginecológica da Universidade Kiel. Entrou para o Partido Nazista em 1933 e, mais tarde, foi nomeado professor de ginecologia na Universidade de Königsberg.
Em 1942, ele solicitou a Heinrich Himmler uma oportunidade para pesquisar esterilização de mulheres e para tanto foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz.
Clauberg desejava criar um método fácil e barato de esterilização. Testou tanto toxinas quanto ácidos injetados diretamente na cavidade uterina, sem o uso de anestésicos. As pacientes judias submetidas sofreram danos permanentes e graves processos infecciosos. Autopsiadas, ovários danificados foram removidos e enviados para Berlim para investigação adicional.
Em outra vertente de pesquisa, Clauberg fez com que prisioneiras tivessem seus abdomens submetidos a intensas cargas de raios-X. Executadas, também seus ovários foram enviados para estudos anatomopatológicos.
Em princípios de 1945, com a aproximação do Exército Vermelho, Clauberg se mudou para outro campo de concentração, o de Ravensbrück, para continuação de seus experimentos. Tropas soviéticas, entretanto, o capturaram. Foi condenado e morreu na cadeia de infarto cardíaco na década de 1960.
Outro caso foi o do Dr. Kurt Heissmeyer, que ambicionava o posto de professor titular da Universidade de Berlim. Como motivo de sua tese, ele idealizara uma pesquisa inédita e “original”. Embora refutada antes do nazismo, sua hipótese era de que injeção de bacilos vivos de tuberculose introduzidos diretamente nos pulmões, poderiam agir como vacina produzindo anticorpos na corrente sanguínea. O plasma, uma vez retirado do infectado, seria injetado em outros seres humanos para imunização.
Outro componente de seu experimento adivinha da pseudocientífica teoria de supremacia racial ariana como fator importante no desenvolvimento da tuberculose: a doença teria muito maior agressividade em raças inferiores.
Através de um tio, o general August Heissmeyer, o médico obteve autorização de Heinrich Himmler para realizar experimentos em judeus e eslavos prisioneiros em Auchwitz.
Heissmeyer realizou seu experimento em 20 crianças judias, dez meninos e dez meninas entre 5 e 12 anos. As crianças, uma vez inoculadas com o bacilo da tuberculose, foram enviadas até o campo de Neuengamme, acompanhadas por quatro prisioneiras adultas para que se sentissem confortáveis. Uma das tutoras durante a viagem, a médica polonesa Paula Trocki, sobreviveu à guerra, e depois do conflito deu seu testemunho aos tribunais que julgaram o médico.
Todas as crianças foram infectadas. Heissmeyer e sua equipe removeram, então, os nódulos das glândulas linfáticas axilares das mesmas e os enviou para o médico patologista Hans Klein, no Hospital Hohenlychen.
Todas as crianças foram fotografadas com os braços levantados para mostrar a incisão cirúrgica no local. Levadas depois à Hamburgo, elas e os adultos que as acompanharam foram enforcados no porão de uma escola e pendurados em ganchos de açougue.
No fim da guerra, Heissmeyer conseguiu fugir e esconder-se em sua cidade natal de Magdeburgo, na Alemanha Oriental, onde retomou a carreira de médico especializado em problemas de pulmonares.
Descoberto apenas em 1959, foi preso e levado a julgamento, sendo condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Durante seu julgamento, declarou: “não acho que os presos do campo tivessem qualquer valor como seres humanos”. Quando perguntado por que não usara animais em suas experiências, respondeu: “para mim não havia qualquer diferença entre judeus e porquinhos-da-Índia”. Morreu na cadeia em agosto de 1967, aos 61 anos de idade.
Chegamos agora ao médico que conseguiu a mais infame notoriedade no pós-guerra, o Dr. Joseph Mengele, o “Anjo da Morte”.
“Mengele foi o mais sádico e cruel de todos. Como se estivesse brincando de Deus, selava o destino dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz. Enquanto uns seguiam para o campo de trabalhos forçados, outros eram jogados nas câmaras de gás”, explica o jornalista americano Gerald Posner, autor de Mengele – The Complete Story (2000).
Josef Mengele nasceu em Günzburg. Seu pai era um rico industrial do ramo de equipamentos agrícolas. Ele, entretanto, preferiu estudar medicina em Frankfurt. Formado em 1938, realizou doutorado em antropologia. Foi admitido em Auschwitz em 1942, como coronel-médico da SS.
Ele tinha uma especial predileção por gêmeos. Todas as crianças assim nascidas ou aprisionadas eram separadas por idade e sexo e guardadas em barracões especiais. Mengele fazia cruéis experiências como provocar doenças num deles para saber o que aconteceria com o segundo, ou matando este quando o primeiro morria, para realizar autópsias comparativas.
Outra de suas experiências era injetar corantes diferentes no sangue para observar se os olhos mudariam de cor. Chegou até mesmo a realizar cirurgias para tentar criar xifópagos de laboratório.
Anões e mulheres grávidas também eram alvo das experiências de Mengele.
O grupo, formado anões e deficientes físicos, era usado como cobaia de experimentos macabros no pavilhão batizado de “zoológico do doutor Mengele”. Suas pesquisas, que nada contribuíram para a ciência, consistiam, entre outras atrocidades, em testar os limites do ser humano em temperaturas altíssimas – como caldeirões de água fervente.
Dezenas de pessoas também foram vitimas de pratica da vivissecção, dissecando-os em vida antes de mandá-los às câmaras de gás.
Mengele também era membro da equipe médica responsável pela supervisão da administração de Zyklon B, o pesticida à base de cianeto de potássio produzido pela Indústria Química Faber, que foi usado para assassinatos em massa nas câmaras de gás.
Cerca de duzentas de suas “cobaias humanas”, entretanto, sobreviveram, graças ao rápido avanço rápido do Exército Soviético no território polonês. Elas contaram que o “Anjo da Morte” sorria para suas futuras vítimas e cantarolava músicas durante seus experimentos.
Conhecemos no Brasil de hoje pessoas que também se excitam com a morte e o matar provocados pelas milícias e pela Covid-19: o Presidente Bolsonaro e seus apoiadores!
Quando, em 1945, a derrota nazista se tornara uma questão de dias, os oficiais da SS só tinham três decisões a tomar: suicídio, prisão ou tentativa de fuga. Mengele optou pela terceira. Sob o pseudônimo de Fritz Ullmann, trabalhou, por quatro anos, numa plantação de batatas no sul da Alemanha, protegidos por membros do Partido Nazista na clandestinidade.
Em junho de 1949, foi obrigado a fugir e escolheu a Argentina, onde trocou novamente de identidade e virou Helmut Gregor. Quando foi descoberto seu paradeiro, a Alemanha pediu sua imediata extradição! O governo de Peron o acobertou e ele fugiu para o Uruguai.
Em 1959, migrou para o Paraguai e, como lá também se sentiu inseguro, em 1962 veio para o Brasil. “Mengele era de família rica. Na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, contou com a ajuda de outros ex-oficiais nazistas. Chegou a ser dono de um laboratório farmacêutico na Argentina, de onde tirava um bom dinheiro”, relata Guterman.
E em nosso país Mengele viveu no luxo e sem precisar trabalhar, sem ser minimamente incomodado durante dezessete anos, acobertado por nazi fascistas e agentes da ditadura militar.
Assim que chegou ao Brasil, Mengele passou a se chamar Peter Hochbichler e foi morar em Nova Europa, no interior de São Paulo. Por intermédio de Wolfgang Gerhard, um nazista que morava no país desde 1948, foi apresentado ao casal Geza e Gitta Stammer. Um ano depois, todos se mudaram para Serra Negra.
“Mengele vivia sob constante tensão. Tinha pavor de ser capturado por agentes do Mossad, o serviço secreto de Israel”, relata o jornalista francês Olivier Guez, autor de “O Desaparecimento de Josef Mengele”.
Afinal, o governo de Israel estabelecera a recompensa de US$ 3,4 milhões, ou vivo ou morto! Ele era o criminoso mais procurado em todo o mundo!
Seu último esconderijo foi a residência dos Bossert, simpatizantes nazi fascistas, no bairro do Brooklin, na capital paulistana.
Em fevereiro de 1977, foram todos para Bertioga e, Mengele, acometido por um AVC enquanto nadava, morreu afogado. Sob o nome falso de Wolfgang Gerhard, o corpo de Mengele foi sepultado em Embu das Artes.
Somente em maio de 1985, a polícia alemã interceptou cartas dos Bossert endereçadas a Hans Sedlmeier, ex-funcionário da família Mengele, e exigiu explicações do governo brasileiro.
O corpo de Mengele, então, foi exumado e submetido a um exame de DNA, realizado na Inglaterra: a ossada era mesmo de Mengele!
Elie Wiesel, que quando criança sobreviveu em Auschwitz, afirma que “porque vimos a aniquilação de comunidades judaicas, ciganas, comunistas, democratas, pelo câncer nazi fascista na Europa, temos que combatê-lo sem um minuto de trégua, para salvar o mundo do contágio”, dado que tendências contemporâneas fascistas e homicidas podem nas concepções e práticas nazistas se inspirarem.