Após o depoimento da advogada Bruna Morato à CPI da Covid, ” O Balaio do Kotscho” no UOL e na Folha de S. Paulo trouxe como título:
“Óbito também é alta, reduz o oxigênio: advogada revela Auschwitz brasileira. ”
Localizado dentro de Auschwitz, o grande campo de concentração nazista na Polônia ocupada, existia um subcampo exclusivo para o extermínio de prisioneiros, o de Bikernau.
E dentro deste subcampo, o Bloco 10 foi destinado exclusivamente para a realização de experimentos ditos “científicos” pelas autoridades de ocupação nazista. Suas cobaias foram os judeus, ciganos, anões, democratas, comunistas e, até mesmo, alguns criminosos comuns.
Equipes médicas especiais foram formadas para atuarem no Bloco 10.
A empresa farmacêutica Bayer foi um dos laboratórios participantes desta iniciativa nazista. Entregou quatrocentos mil marcos para o regime de Hitler utilizar em experimentos em cobaias humanas.
A Bayer, inclusive, comprou algumas dezenas de prisioneiros de Birkenau para servirem no teste de novas sulfas em seus próprios laboratórios. Calcula-se que tenha sido responsável diretamente por mais de duas centenas de judeus que morreram por falência renal.
Doutores como Carl Clauberg e Kurt Heissmeyer foram alguns dos mais conhecidos a usarem cobaias humanas tanto para testarem suas teses, como para experimentos sobre toxicidade de novas drogas para a indústria farmacêutica.
Carl Clauberg nasceu em 1898, em uma família de artesãos. A duras penas estudou medicina e finalmente chegou ao posto de médico chefe na clínica ginecológica da Universidade Kiel. Entrou para o Partido Nazista em 1933 e, mais tarde, foi nomeado professor de ginecologia na Universidade de Königsberg.
Em 1942, ele solicitou a Heinrich Himmler uma oportunidade para pesquisar esterilização de mulheres e para tanto foi transferido para o campo de concentração de Auschwitz.
Clauberg desejava criar um método fácil e barato de esterilização. Testou tanto toxinas quanto ácidos injetados diretamente na cavidade uterina, sem o uso de anestésicos. As pacientes judias submetidas sofreram danos permanentes e graves processos infecciosos. Assassinadas foram autopsiadas, ovários danificados foram removidos e enviados para Berlim para investigação adicional.
Causa morte reportada em alguns prontuários: morte natural!
Em outra vertente de pesquisa, Clauberg fez com que prisioneiras tivessem seus abdomens submetidos a intensas cargas de raios-X. Executadas, também seus ovários foram enviados para estudos anatomopatológicos.
Em princípios de 1945, com a aproximação do Exército Vermelho, Clauberg se mudou para outro campo de concentração, o de Ravensbrück, para continuação de seus experimentos. Tropas soviéticas, entretanto, o capturaram. Foi condenado e morreu na cadeia de infarto cardíaco na década de 1960.
O Dr. Kurt Heissmeyer ambicionava o posto de professor titular da Universidade de Berlim. Como motivo de sua tese, ele idealizara uma pesquisa inédita e “original”.
Embora refutada antes da chegada do nazismo ao poder, sua hipótese era de que injeção de bacilos vivos de tuberculose introduzidos diretamente nos pulmões, poderiam agir como vacina produzindo anticorpos na corrente sanguínea. O plasma, uma vez retirado do infectado, seria injetado em outros seres humanos para imunização.
Outro componente de seu experimento adivinha da pseudocientífica teoria de supremacia racial ariana como fator importante no desenvolvimento da tuberculose: a doença teria muito maior agressividade em raças inferiores.
Através de um tio, o general August Heissmeyer, o médico obteve autorização de Heinrich Himmler para realizar experimentos em judeus e eslavos prisioneiros em Auchwitz.
Heissmeyer realizou seu experimento em 20 crianças judias, dez meninos e dez meninas entre 5 e 12 anos. As crianças, uma vez inoculadas com o bacilo da tuberculose, foram enviadas até o campo de Neuengamme, acompanhadas por quatro prisioneiras adultas para que se sentissem confortáveis.
Uma das tutoras durante a viagem, a médica polonesa Paula Trocki, sobreviveu à guerra, e depois do conflito deu seu testemunho aos tribunais que julgaram o médico.
Todas as crianças foram infectadas. Heissmeyer e sua equipe removeram, então, os nódulos das glândulas linfáticas axilares das mesmas e os enviou para o médico patologista Hans Klein, no Hospital Hohenlychen.
Todas as crianças foram fotografadas com os braços levantados para mostrar a incisão cirúrgica no local. Levadas depois à Hamburgo, elas e os adultos que as acompanharam foram enforcados no porão de uma escola e pendurados em ganchos de açougue.
No fim da guerra, Heissmeyer conseguiu fugir e esconder-se em sua cidade natal de Magdeburgo, na Alemanha Oriental, onde retomou a carreira de médico especializado em problemas de pulmonares.
Descoberto apenas em 1959, foi preso e levado a julgamento, sendo condenado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade.
Durante seu julgamento, declarou: “não acho que os presos do campo tivessem qualquer valor como seres humanos”. Quando perguntado por que não usara animais em suas experiências, respondeu: “para mim não havia qualquer diferença entre judeus e porquinhos-da-Índia”. Morreu na cadeia em agosto de 1967, aos 61 anos de idade.
Dentre todos médicos do Bloco 10, entretanto, sobressaia uma figura, se possível, ainda mais macabra: a de Joseph Mengele, o “Anjo da Morte”.
Entre 1943 e 1944, Mengele realizou experiências monstruosas em mais de mil e quinhentos prisioneiros! “Mengele foi o mais sádico e cruel de todos. Como se estivesse brincando de Deus, selava o destino dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz.
Enquanto uns seguiam para o campo de trabalhos forçados, outros eram jogados nas câmaras de gás”, explica o jornalista americano Gerald Posner, autor de Mengele – The Complete Story (2000).
Josef Mengele nasceu em Günzburg. Seu pai era um rico industrial do ramo de equipamentos agrícolas. Ele, entretanto, preferiu estudar medicina em Frankfurt. Formado em 1938, realizou doutorado em antropologia. Foi admitido em Auschwitz em 1942, como coronel-médico da SS.
Ele tinha uma especial predileção por gêmeos. Todas as crianças assim nascidas ou aprisionadas eram separadas por idade e sexo e guardadas em barracões especiais. Mengele fazia cruéis experiências como provocar doenças num deles para saber o que aconteceria com o segundo, ou matando este quando o primeiro morria, para realizar autópsias comparativas.
Outra de suas experiências era injetar corantes diferentes no sangue para observar se os olhos mudariam de cor.
Chegou até mesmo a realizar cirurgias para tentar criar xifópagos de laboratório.
Anões e mulheres grávidas também eram alvo das experiências de Mengele. O grupo, formado anões e deficientes físicos, era usado como cobaia de experimentos macabros no pavilhão batizado de “zoológico do doutor Mengele”.
Suas pesquisas, que nada contribuíram para a ciência, consistiam, entre outras atrocidades, em testar os limites do ser humano em temperaturas altíssimas – como caldeirões de água fervente.
Dezenas de pessoas também foram vítimas de pratica da vivissecção, dissecando-os em vida antes de mandá-los às câmaras de gás. Mengele queria testar até quando as pessoas resistiriam à dor.
Mengele também era membro da equipe médica responsável pela supervisão da administração de Zyklon B, o pesticida à base de cianeto de potássio produzido pela Indústria Química Faber, que foi usado para assassinatos em massa nas câmaras de gás.
Cerca de duzentas das cobaias humanas de Mengele, entretanto, sobreviveram, graças ao rápido avanço rápido do Exército Soviético no território polonês. Elas contaram que o “Anjo da Morte” sorria para suas futuras vítimas e cantarolava músicas clássicas durante seus experimentos.
Quando, em 1945, a derrota nazista se tornara uma questão de dias, os oficiais médicos da SS só tinham três decisões a tomar: suicídio, prisão ou tentativa de fuga.
Mengele optou pela terceira. Sob o pseudônimo de Fritz Ullmann, trabalhou, por quatro anos, no sul da Alemanha, protegido por membros do Partido Nazista na clandestinidade. Em junho de 1949, fugiu para a Argentina, onde virou Helmut Gregor. Quando foi descoberto seu paradeiro, a Alemanha pediu sua imediata extradição! O governo de Peron o acobertou e ele fugiu para o Uruguai.
Em 1959, migrou para o Paraguai e, como lá também se sentiu inseguro, em 1962 veio para o Brasil.
“Mengele era de família rica. Na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, contou com a ajuda de outros ex-oficiais nazistas. Chegou a ser dono de um laboratório farmacêutico na Argentina, de onde tirava um bom dinheiro”, relata Guterman.
No Brasil, Mengele viveu no luxo e sem precisar trabalhar, sem ser minimamente incomodado durante dezessete anos, acobertado por nazi fascistas e agentes da ditadura militar.
Em fevereiro de 1977, Mengele foi acometido por um AVC enquanto nadava, morreu afogado. Sob o nome falso de Wolfgang Gerhard, o corpo de Mengele foi sepultado em Embu das Artes.
Hoje temos a abominável teoria da “imunidade de rebanho” levada às últimas consequências pelo Governo Cívico Militar de Bolsonaro.
O uso indiscriminado de drogas potencialmente tóxicas, mas inúteis para a Covid-19, eram simplesmente uma cortina de fumaça para estimular o contágio. Bolsonaro e seus asseclas buscavam, tal qual os nazistas alemães, a sobrevivência dos mais fortes, assim como a morte dos velhos, idosos e com deficiências.
Prevent Senior, Hapvida, Conselhos de Medicina, dentre tantos outros trágicos atores por ação ou por omissão, foram partícipes da farsa e da desgraça que se abateu sobre nosso povo sob o dístico: “o médico é livre para prescrever o que quiser”.
Não o é! A ética médica e a submissão aos preceitos da ciência são mandatórias!
Aqueles que se prestaram ao curandeirismo e a procedimentos de desrespeito à à ética tornaram novamente presente Auschwitz entre nós!
Afinal, como musicaram Caetano e Gil:
“Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui”.
Elie Wiesel, que quando criança sobreviveu em Auschwitz, afirma que “porque vimos a aniquilação de comunidades judaicas, ciganas, comunistas, democratas, pelo câncer nazi fascista na Europa, temos que combatê-lo sem um minuto de trégua, para salvar o mundo do contágio”, dado que tendências contemporâneas fascistas e homicidas podem nas concepções e práticas nazistas se inspirarem.
Aqui, no Brasil, se inspiraram!