“A marca da morte rubra”, Bolsonaro e seus comparsas aloucados.

“A máscara da morte rubra”, conto de Edgar Allan Poe publicado em 1842, revela o descalabro, o mal e os desvarios dos “príncipes” e de seus seguidores, diante de uma grave epidemia.

Surtos sucessivos de cólera devastavam a Europa em meados do século XIX. Umas das fontes que inspiraram Poe foi o relato do amigo e também escritor Parker Willis. Willis, em suas andanças pela Europa, participara de um “baile de cólera” em Paris, no auge da Peste.

No conto de Poe, a Peste, chamada “Morte Rubra”, devastava determinado país, regido por um Príncipe, autodenominado Próspero.

“Por muito tempo a Morte Rubra devastara o país. Jamais pestilência alguma fora tão mortífera ou tão terrível… Mas o príncipe Próspero sabia-se feliz, intrépido e sagaz. Quando seus domínios começaram a despovoar-se, chamou à sua presença um milheiro de amigos sadios e frívolos, escolhidos entre os fidalgos e damas da corte, e com eles se encerrou numa de suas abadias fortificadas.”

Nesta abadia, aprovisionada com extrema abundância, e agindo com extrema precaução para que nenhum habitante da região nela penetrasse, Próspero e seus sequazes acreditavam ser possível desafiar o contágio. O resto do País que cuidasse de si mesmo, afinal “todos morrem né?” e “não sou coveiro de ninguém”, tal qual o Príncipe imaginário, assim se expressou também Bolsonaro a respeito da Peste que destrói nossas vidas no século XXI.

Acontece no conto, ao final de seis meses de reclusão, ter o Príncipe resolvido entreter seus mil diletos comparsas, todos fortes e atletas, com um incrível Baile de Máscaras, “da magnificência mais extraordinária”.

Poe cristaliza como parcela do comportamento humano é recorrente diante das catástrofes de enormes proporções: o desregramento, o individualismo extremado e a loucura!

O trabalho do historiador francês Jean Delumeau, autor de a “História do medo no Ocidente”, abrange o período que vai dos séculos XIV ao XVII, e investiga os pesadelos — tanto íntimos quanto coletivos — que assolaram a civilização ocidental ao longo do tempo, a maior parte dos quais presentes nos dias de hoje, dias de Covid.

Em relação às Pestes, o historiador assinala que, frente ao avanço das epidemias que matavam milhares e milhares, eram “frequentes as bebedeiras e os desregramentos inspirados pelo desejo frenético de aproveitar os últimos momentos de vida. Era o ‘carpe diem’ vivido com uma intensidade exacerbada pela iminência quase certa de um horrível trespasse”.

Por outro lado, os esforços de contingentes mais conscientes da população que tentavam evitar a loucura e contágio, eram igualmente importantes: “Evita-se abrir as janelas da casa e descer à rua. As pessoas esforçam-se em resistir, fechadas em casa, com reservas que se pôde acumular. Se assim mesmo é preciso sair para se comprar o indispensável, impõem-se precauções. Fregueses e vendedores de artigos de primeira necessidade só se cumprimentam à distância e colocam entre si o espaço de um largo balcão”.

Retornando ao Conto de Allan de Poe, “A mascarada foi um cenário de grande prazer e voluptuosidade”. O baile era alegre e magnífico.

Com relação ao Príncipe, seus projetos “eram ousados e ardentes e suas concepções brilhavam com esplendor bárbaro.”

Alguns o julgavam um desequilibrado mental, “por concepções delirantes que pareciam ter saído da prancheta de um louco”, embora seus sequazes, seus seguidores, não pensassem assim. Talvez ele fosse “apenas um excêntrico”!

A história se detém nessa festa, que, em certo momento, receberá um inesperado e assustador intruso!

“Mesmo os inteiramente perdidos, para quem a vida e a morte são idênticos brinquedos, têm certos tabus que não podem ser quebrados por zombarias.” Assim pensavam a respeito de um mascarado original, saído não se sabe de onde, expressão da própria “Morte Vermelha”.

A fortaleza da abadia não impedira o assalto pela mesma morte que já dizimara metade do país! Na festa da mascarada, “O próprio Príncipe Próspero, enlouquecido pela raiva e pela vergonha de sua própria covardia” será abatido pelo intruso!

A Peste a ninguém poupará! “Foi, então, reconhecida a presença da Morte Rubra. Ela tinha chegado… e a Escuridão, a Decomposição e a Morte Rubra assumiram o domínio incontestável de toda a abadia.”

Conseguirão os “bolsonaros”, “Príncipes Prósperos” de hoje, responsáveis pelo genocídio que se prenuncia, tanto por ação quanto por omissão, refugiarem-se em suas motos e palanques?

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