Israel abriu a Caixa de Pandora do Oriente Médio, nessa pós-modernidade, ao eliminar sem clemência o chefe do Hamas, Ismail Hanyeh, em pleno solo iraniano. De fato, ao mesmo tempo em que enfraquece o grupo que ousou invadir seu território para matar mais de mil pessoas, manda uma mensagem bem clara ao mundo, a saber, a de que seu maior inimigo na região, o Irã, não é capaz sequer de receber com segurança um aliado em sua casa.
As implicações desse atentado ainda são muito incertas. Mas uma coisa já podemos prever, qual seja, a de que a escalada na região está longe do fim, salvo por uma interferência direta dos Estados Unidos. As primeiras informações que chegam dão conta de que Teerã está estupefata com a audácia e, ao mesmo tempo, com a capacidade de Israel desferir tal golpe de forma nua e crua. Se juntarmos a morte desse chefe do Hamas com a morte de um líder do Hezbollah, Fouad Shukur, na última terça-feira, é possível dizer que Israel não quer paz. Pelo contrário, apesar dos insistentes apelos do mundo para moderar o genocídio em Gaza, ataca sem piedade para aterrorizar seus oponentes.
Nesse sentido, atacar dois importantes líderes de organizações consideradas por Israel como inimigas em apenas dois dias envia uma mensagem de quase onipotência em relação aos outros países árabes da região, bem como de ser imune aos protestos das outras potências regionais, sob o manto protetor da única superpotência mundial, os Estados Unidos. É surreal termos um país com carta branca para matar civis indiscriminadamente, como Israel faz em Gaza, sob o pretexto de eliminar o grupo Hamas, e agora explodir opositores em solos estrangeiros.
Como eu disse acima, as consequências desses atentados praticados por Israel ainda são imprevisíveis. O Irã e o Hamas já prometeram vingança. O Hezbollah idem. Ainda que o Hamas e o Hezbollah não tenham capacidade militar para uma retaliação direta ao Estado de Israel, é possível prever que não ficarão quietos. Como se darão as ações desses dois grupos contra Israel, será preciso esperar para ver., mas elas virão, de uma maneira ou de outra. Quanto ao Irã, se realmente vingar a morte do líder do Hamas, como prometeu o aiatolá Ali Khamenei, seu líder supremo, estará fazendo o jogo sanguinário de Netanyahu, ou seja, autorizando-o a escalar a guerra.
Portanto, as próximas mexidas nas peças do tabuleiro do Oriente Médio podem levar o mundo ao caminho sem volta de uma guerra global. Os Estados Unidos não estão percebendo que os senhores da guerra estão indo longe demais.
*André Márcio Neves Soares é doutorando em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador – UCSAL.