Rede Jovem Pan: a tendenciosidade, o desserviço e a desinformação. Quem segue os princípios básicos do jornalismo?

Preliminarmente, devo dizer que sou grande defensor da liberdade de expressão. Por isso, admiro e respeito tanto as mídias tradicionais como as mídias digitais. Já escrevi incontáveis artigos em jornais do Interior, durante mais de quarenta anos. E participo ativa e diariamente das mídias digitais e sociais, através de grupos de correspondentes e de plataformas.

No entanto, faço também minhas críticas a ambas. Às mídias digitais, porque são um espaço escancarado às fake-news, à calúnia, à injúria e a difamação, tudo praticamente sem punição, por falta de regulamentação adequada. Dou razão ao grande escritor, filósofo e linguista Umberto Eco:

“Umberto Eco afirmou que as redes sociais dão o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas ‘em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade’”.

Para Eco, antes das redes sociais, os ‘idiotas da aldeia’ tinham direito à palavra ‘em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade’. ‘O drama da Internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade’.

Mas, se as redes sociais foram invadidas pelos “idiotas da aldeia” e por uma “legião de imbecis”, e por divulgadores de fake-news, faço severas restrições, também, à mídia tradicional.

Tanto nos jornais escritos, como na TV e no Rádio percebe-se a ação de ditadores da imprensa, que abrigam legiões de ativistas políticos disfarçados de jornalistas. Comentaristas tendenciosos, sofistas, assassinos da verdade, e defensores de interesses individuais ou de classes, ignoram completamente os preceitos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

As mídias são um fantástico instrumento que poderia ser utilizado para o bem da humanidade e do meio ambiente, mas também são utilizadas para futilidades, leviandades e doutrinação deletéria.

Mas existe uma vasta escala no espectro observável entre as mídias, que varia entre o bom, o medíocre, o ruim e o péssimo! E eu incluo a Rede Jovem Pan no extremo do péssimo!

Ali, não consigo enxergar a prática do jornalismo autêntico. Há um bando de ativistas políticos (não de jornalistas no verdadeiro sentido da palavra) a serviço dos interesses da extrema direita nacional e mundial, a serviço do neoliberalismo econômico, do egoísmo, do lucro a qualquer custo, da privatização dos bens públicos, do menosprezo do papel do Estado como promotor da justiça social e defensor dos interesses coletivos; da manutenção da riqueza extrema de poucos e da miséria extrema de milhões, e, sobretudo, da injustiça tributária!

Além disso, considero a JP é uma rede hipócrita.

Quer passar a falsa ideia de pluralidade, colocando dois profissionais que são jornalistas de verdade, ao lado de oito ou dez que são ativistas políticos. Temos que respeitar, p.ex., Amanda Klein, que faz parte do Jornal da Manhã, e Fábio Piperno, comentarista político do programa 3 em 1. Tenho grande respeito e admiração por esses dois competentes jornalistas. Mas eles enfrentam diariamente uma alcateia de hienas vorazes e traiçoeiras, que sempre ficam com a última palavra, entre os quais, destaco: José Maria Trindade, Cristiano Beraldo, Roberto Motta, Luiz Felipe D’ávila, Cláudio Dantas, Daniel Caniato (Diretor de Redação), Gustavo Segré, entre outros.

Esses tendenciosos, enganadores e traiçoeiros do povo brasileiro, se passam por “jornalistas”, mas são nítidos “ativistas políticos” a serviço da extrema direita, do neoliberalismo econômico, e jamais conseguem esconder seus ideais e seus propósitos:

 São contra a presença do Estado na vida social e econômica; defendem o Estado mínimo; são contra a cobrança de impostos progressivos sobre as classes abastadas, e desprezam o fato de que caberia ao Estado minorar as mazelas causadas pelo liberalismo clássico. Não reconhecem o liberalismo moderno, que pregou o Estado intervencionista e promotor.

O governo norte-americano teve de colocar cerca de US$ 2 trilhões de recursos públicos para controlar a pandemia da Covid, ante a completa omissão da medicina privada daquele país. O Brasil, por sua vez, colocou mais de R$ 600 bilhões para combater a pandemia! O que seria do povo norte-americano e do povo brasileiro sem essa ajuda estatal? E de onde vêm esse dinheiro a não ser da arrecadação de impostos?

 Defendem Trump nos EUA (que tem contra si sérios processos civis e criminais em seu país, inclusive por incentivar a invasão do Capitólio) e Netanyahu, em Israel, e acusam Biden e Kamala Harris de comunistas e esquerdistas.

Protegem e enaltecem o criminoso de guerra Netanyahu (que sofre manifestações diárias em seu próprio país, e no mundo inteiro, pelo seu comportamento ditatorial e criminoso), e que já matou mais de 80.000 palestinos inocentes, entre os quais 14.000 crianças, e só condenam o Hamas.

Dizem abertamente que é injusto cobrar impostos dos ricos e bilionários, no Brasil e no mundo. E passam ao largo da perversa e injusta legislação tributária em nosso país!

Repetem diariamente que no Brasil se paga muito imposto, mas omitem o fato de que quem paga mais impostos aqui são os pobres e a classe média, através dos impostos sobre o consumo – os impostos indiretos!

E jamais tocam na realidade de que o Brasil é o paraíso dos ricos e dos sonegadores. Silenciam que temos as menores alíquotas de impostos sobre a propriedade, a renda e os ganhos de capital, dividendos, pessoa física (impostos diretos) na comparação com todos os principais países do mundo! Jamais dizem que a Inglaterra tem alíquota máxima de 40% para heranças, e que os países da Escandinávia têm alíquotas de imposto de renda de quase 60%!

Isso para não falar da sonegação de impostos no Brasil (assunto no qual os ativistas políticos da JP jamais tocam):

Jamais falam que o “BRASIL PERDE R$ 417 bilhões por ano com sonegação de impostos”.

É preciso que outras mídias, mais honestas, divulguem a realidade:

“Levantamento do IBPT mostra que R$ 2,33 trilhões não são declarados”. (Publicado em 12.12.2020, por Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil, Brasília).

“O Brasil deixa de arrecadar mais de R$ 417 bilhões por ano com impostos, devido às sonegações de empresas. Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostra que o faturamento não declarado pela s empresas é de R$ 2,33 trilhões por ano. As cifras foram calculadas com base nos autos de infrações emitidos pelos fiscos federal, estaduais e municipais.

“Segundo o levantamento, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) foi o imposto mais sonegado em 2018. Já em 2019, a sonegação do imposto de renda superou o ICMS. O IBPT descobriu que 47% das empresas de pequeno porte sonegam imposto. Já a taxa entre as empresas médias é de 31% e entre as de grande porte é de 16%.

“Ao mesmo tempo, os valores sonegados são maiores no setor industrial, seguido pelas empresas de serviços financeiros e pelas empresas de prestação de serviços. ”

A notícia completa em:

https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-12/brasil-perde-r-417-bi-por-ano-com-sonegacao-de-impostos-

Os ataques a Lula e a Haddad.

Atacam Lula e Haddad diariamente, criticando absolutamente tudo o que fazem e o que dizem, e jamais reconhecendo suas inegáveis conquistas no plano econômico, com o crescimento do PIB e nas questões sociais, com a redução da fome e da miséria extrema, e com a melhora do índice de nosso IDH.

Elogiam Bolsonaro incondicionalmente, inclusive quando o ex-presidente estimulou a população a não tomar vacinas e foi conivente com a invasão de terras públicas e indígenas na Amazônia por grileiros e por madeireiros e garimpeiros ilegais. Isso para não dizer do aparelhamento do Estado com cerca de 6.000 militares em cargos normalmente ocupados por civis.

Jamais mencionaram a declaração do coronel Jarbas Passarinho, feita em 2011 (que foi ministro de várias pastas e um dos mais destacados integrantes das Forças Armadas durante a  ditadura militar de que “Bolsonaro só não perdeu o cargo de capitão porque tinha um general amigo no STM”; jamais se referiram à declaração do general Geisel, feita em 1993, que afirmou que “Bolsonaro foi um mau militar”; jamais se referiram à afirmativa do general Santos Cruz, que disse: “Esse governo é um show de besteiras”(General Santos Cruz, em junho de 2019), referindo-se ao governo Bolsonaro! Jamais se referiram ao “Documento sigiloso produzido pelo Exército na década de 1980 mostrando que oficiais superiores do presidenciável Jair Bolsonaro o avaliaram como dono de uma “excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente”.

Trataram com absoluta brandura e com justificativas insustentáveis os invasores e depredadores das sedes dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo, no deplorável episódio de 8 de janeiro, porque os criminosos eram bolsonaristas, o que foi um dos maiores atentados contra a democracia brasileira!

Jamais disseram que a população em extrema pobreza cresceu muito durante o governo de Jair Bolsonaro.

E jamais falarão que “População em extrema pobreza no Brasil cai 40% em 2023”, no primeiro ano do governo Lula-Alckmin-Haddad!

“A população em situação de extrema pobreza no Brasil caiu 40% em 2023, aponta relatório do Observatório Brasileiro das Desigualdades” (https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2024/08/27/populacao-extrema-pobreza-brasil.htm)

 Dias atrás chegaram ao descaramento de dizer: “Voltaremos ao poder em 2026”!

Pedem maior rigor no tratamento e no cumprimento das penas aos criminosos comuns (com o que eu concordo); mas eles se referem aos criminosos pobres que não têm advogados caros para defendê-los. Jamais se referem aos criminosos ricos, de colarinho branco, sonegadores de impostos, banqueiros que cobram juros absurdos, e motoristas de Porsches, que voam a 250 km/h nas ruas de SP e matam inocentes!

Jamais se referem a policiais que envergonham suas corporações, matando jovens inocentes, desarmados, por supostas infrações ridículas! (Devemos defender e apoiar os policiais honestos, que colocam suas vidas para proteger a sociedade; mas os maus policiais devem ser criticados e punidos, eis que comprometem os próprios companheiros.)

Criticam diariamente o STF, notadamente o ministro Alexandre de Moraes, porque ele quer regulamentar as mídias sociais, punindo a divulgação de mentiras, injúrias, calúnias, fake-news – sob o falso mantra “da liberdade de expressão”!

Mas silenciam sobre o fato de que a França prendeu, recentemente, o dono do Telegram, acusado por crimes pela ausência de moderação e pela falta de cooperação com as autoridades. (“Enquanto é usada por líderes políticos, pessoas comuns e até como ferramenta de guerra, a rede social desafia os governos, que querem acesso aos dados”.)

Sempre apoiaram (e continuam apoiando) incondicionalmente o ex-ministro (da destruição) do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, Ricardo Salles, aquele que foi flagrado dizendo que deveriam se “aproveitar para fazer a boiada passar…”

Criticam as ações do MST, mas jamais falam nas invasões de terras públicas e indígenas por grileiros, e sempre se omitiram sobre as ações criminosas e predatórias de garimpeiros ilegais, que poluem as águas e envenenam os índios com mercúrio, com estímulo do governo Bolsonaro.

“A grilagem de terra não é um fenômeno restrito à região amazônica, pois, de acordo com estimativas conservadoras do governo federal, o total de terras no país sob suspeita de serem griladas é de aproximadamente 100 milhões de hectares. ”

“Os atores da apropriação generalizada de terras públicas. Uma primeira conclusão que se impõe é a da generalização de um processo de apropriação privada de terras públicas, em todos os municípios visitados, sem qualquer exceção. A apropriação privada de terras públicas (e não apenas a produção de títulos fundiários fraudulentos) é conhecida localmente como grilagem. Os principais articuladores da expansão do desmatamento tal como é hoje praticado encontram-se, embora em diferentes degraus, no topo da cadeia da grilagem. Vamos chamá-los de “empreendedores”. Eles podem ser tanto indivíduos estabelecidos há muito tempo nas zonas de colonização e nas cidades ao longo das rodovias, cuja fortuna está vinculada à exploração madeireira, à pecuária, ao comércio de produtos agrícolas etc., quanto pessoas físicas, firmas ou corretores provenientes da capital do estado ou de todo o país, às vezes profissionais liberais ou políticos que já possuem capital investido em terras e pecuária, nas suas regiões de origem…”( https://antigo.mma.gov.br/estruturas/225/ __a_grilagem_de_terras_pblicas_na_amaznia_brasileira)

Ignoram o desmatamento de milhões de hectares de terras na Amazônia e no Cerrado por madeireiros ilegais, latifundiários e grandes proprietários do “agro”.

Quando o índice da Bolsa de Valores cai no Brasil, e o dólar sobe, os culpados, para esses vis comentaristas, são o presidente Lula e o ministro Haddad; quando a Bolsa de Valores sobe e bate recordes, e o dólar cai, o responsável é o Federal Reserve (FED), dos EUA!

Jamais tocam nos lucros astronômicos dos bancos brasileiros, graças aos juros criminosos que praticam (os maiores do mundo!), destruindo a vida de dezenas de milhões de famílias e de incontável número de pequenos empresários trabalhadores e produtivos.

Nunca divulgaram os salários de diretores e CEOs do Banco Itaú, do Banco Santander, do Bradesco e de grandes empresas privadas, que chegam a ultrapassar R$ 4.000.000,00 por mês (mais de R$ 50 milhões por ano) !!! (Lembre-se que a publicação desses absurdos foi fruto de uma ação judicial movida pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários, instituição vinculada ao Ministério da Fazenda, cuja função é disciplinar o funcionamento do mercado de valores mobiliários no Brasil.

Lembre-se que a Rádio Jovem Pan já foi advertida e punida pelo STF, o que a levou a demitir alguns de seus comentaristas pela prática de excessos e desrespeito às determinações do Tribunal. Mas pouco ou nada adiantou. Admitiu outros com perfis bastante semelhantes, que continuam desprezando o interesse social e coletivo e a ética do jornalismo.

Longe estão, portanto, esses comentaristas da JP (repito: com exceção de Amanda Klein e Fábio Piperno, que são autênticos jornalistas) de cumprir os princípios básicos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros do qual vou listar apenas alguns:

Art. 1° – O acesso à informação pública é um direito inerente à condição de vida em sociedade, que não pode ser impedido por nenhum tipo de interesse.

Art. 2° – A divulgação da informação, precisa e correta, é dever dos meios de divulgação pública, independente da natureza de sua propriedade.

Art. 3° – A informação divulgada pelos meios de comunicação pública se pautará pela real ocorrência dos fatos e terá por finalidade o interesse social e coletivo.

Art. 6° – O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e de finalidade pública, subordinado ao presente Código de Ética.

Art. 7° – O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação.

Portanto, pouco ou quase nada resta de interesse social e coletivo nos comentários da JP (exceto pelos dois profissionais citados); tudo pelo interesse particular, tudo pelo interesse partidário, tudo pela ideologia neoliberal, tudo pelo individualismo!

Enfim, dizer que esses cidadãos, ativistas políticos travestidos de jornalistas, são vis, reles, infames e abjetos, é pouco, e não define o que realmente são! Eles são desavergonhados pregadores do ódio e do mal! Jornalistas, jamais! – Um jornalista autêntico, a meu ver, deve ter compromisso incondicional com a verdade, com a justiça social, com a justiça no seu sentido mais amplo, com a isenção, e livre da ação do dinheiro e do poder econômico! Identifico vários deles no Brasil, que observam a ética de sua profissão. Mas muitos a descumprem.

Não sou contra que as mídias e seus comentaristas possam ter suas predileções políticas ou preferências ideológicas em termos econômicos. Entendo que isso como um direito que faz parte da Liberdade. Mas considero inaceitável que usem suas predileções para desinformar e manipular a população, distorcer os fatos e omitir a verdade, e desprezar os interesses sociais e coletivos. Isso faz dessas mídias verdadeiras quadrilhas que atuam para a desintegração social, eis que muitos de seus comentaristas não praticam o nobre e admirável trabalho do autêntico jornalismo.

E pior: acobertam-se sob o mantra da “liberdade de expressão”.

ARIALDO PACELLO

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