Praga, 23 de novembro de 1911.
“Altamente estimada Sra. Curie, não se ria de mim por lhe escrever sem ter nada sensato a dizer. Mas estou tão furioso com a forma vil como o público ousa presentemente preocupar-se convosco que devo absolutamente dar vazão a este sentimento.
Sinto-me impelido a dizer-lhe o quanto passei a admirar o seu intelecto, a sua motivação e a sua honestidade, e que me considero orgulhoso por tê-la conhecido pessoalmente em Bruxelas.
No entanto, estou convencido de que a senhora despreza a turba, que tenta saciar seu desejo de sensacionalismo e poder!
Qualquer um que não esteja entre esses répteis está certamente feliz, agora como antes, por termos entre nós personagens como você e Langevin, pessoas superiores com quem nos sentimos privilegiados por estar em contato…
Se a ralé continuar a se ocupar com você, então simplesmente não leia essas bobagens impressas, mas deixe-as para os ignóbeis que as fabricaram…
Com os mais amigáveis cumprimentos a você, Langevin e Perrin, muito sinceramente,
Albert Einstein. ”
Esta foi a carta de Einstein a Curie quando ela enfrentava ataques implacáveis à sua vida pessoal, dizendo que ela “manchara o bom nome” de seu falecido marido, Pierre Curie.
No dia 18 de agosto de 1926, Guimarães Rosa, Juscelino Kubitschek e Pedro Nava, com idades entre 18 e 24 anos, assistiram a uma palestra sobre radioatividade e sua aplicação no tratamento do câncer no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.
Não era uma palestra qualquer. Naquele dia, a UFMG recebeu a visita ilustre de Marie Curie, então com 59 anos. A cientista polonesa naturalizada francesa ganhou duas vezes o mais importante prêmio científico do planeta, o Nobel — o primeiro, de física, em 1903, e o segundo, de química, em 1911.
Também foi a primeira mulher a se tornar professora na Universidade de Paris.
Casou-se com o também pesquisador Pierre Curie, sem nenhuma cerimônia religiosa. Entretanto, Pierre, afetado seriamente pelos efeitos radiativos de suas pesquisas, sofreu um acidente e faleceu em 1906.
Apesar da fama de Curie como cientista, a atitude do público tendia à xenofobia contra a polonesa e também alimentou falsas especulações de que Curie seria judia. Durante as eleições da Academia Francesa de Ciências, ela foi difamada pela imprensa de direita como estrangeira e ateia.
Em 1911, foi revelado que a “ateia” Curie estava envolvida num caso amoroso com o físico Paul Langevin, ex-aluno de Pierre Curie, homem casado que se separara de sua esposa por conta do relacionamento. Isto resultou em um escândalo de imprensa que foi explorado por seus oponentes acadêmicos. Curie (então com 40 e poucos anos) foi detratada nos tabloides como uma judia estrangeira destruidora de lares. Foi-lhe negado o assento na Academia Francesa de Ciências.
Quando este escândalo estourou na imprensa, ela estava ausente em uma conferência na Bélgica; ao retornar, encontrou uma multidão enfurecida em frente à sua casa e teve que procurar refúgio, com as filhas, na casa de sua amiga Camille Marbo.
Curie, por toda a vida brigou pelos direitos igualitários entre homens e mulheres.
Marie Curie morreu em 1934, aos 66 anos de anemia aplástica, causada por exposição à radiação durante sua pesquisa científica e seu trabalho radiológico em hospitais de campanha durante a Primeira Guerra Mundial, como voluntária.
Em 1995, se tornou a primeira mulher a ser sepultada por seus próprios méritos no Panteão de Paris.