O vigésimo terceiro Buda

Ao tempo do vigésimo terceiro Buda, também conhecido por Sidarta Gautama, o século V a.C., a Índia era dividida em dois grandes reinos: Koshala, cuja capital era Sharavasti, e Magadha, capital, Rajagriha. Além desses existiam, nos contrafortes do Himalaia, as denominadas Sete Repúblicas. Ao norte, na região fronteiriça com a Bactria ( atual Afganistão), as províncias de Punjab e Gandhara eram Satrapias do Grande Rei (Persa), e sua capital era Gandhara.

As cidades mais importantes, além das já citadas capitais eram: em Koshala, Varanasi; em Magadha, Champa e Pataliputra; nas Repúblicas, Vaishali e Kapilavastru.

As sete Repúblicas eram unidas entre si. Já os reinos de Koshala e Magadha competiam pela hegemonia e dominação.

O Buda, (que em indú significa “O Iluminado”), era nascido na República de Shakya, filho de uma família de guerreiros. Foi educado em Kapilavastru, capital de Shakya. Casou-se e teve um filho de nome Rahula, que significa “o laço”, aquele que um dia Sidarta iria romper para eliminar o mundo.

Com a idade de 29 anos, Sidarta Gautama iniciou sua nobre procura através da meditação. Teve um grande protetor, Anathapindika, o generoso. Foi, então, a Varanasi pela primeira vez e lá permaneceu durante sete anos numa floresta denominada de  Parque dos Veados. Vivia da mendicância de um prato de arroz por dia e meditava. E foi sob uma das árvores do parque que ele atingiu a Iluminação, tornando-se Buda.

Diz a lenda mítica que tal fato ocorreu após uma competição mágica, tendo Sidarta derrotado  Mara, o senhor do mundo, e, em decorrência, eliminara-se a si mesmo, assim como todo seu próprio mundo tangível. Já nada o preocupava ou tocava; no entanto, em determinado momento atemporal, Bhrama veio até ele e pediu-lhe que indicasse o Caminho da Luz aos outros mortais. Por isso Sidarta retornou à cidade e colocou em movimento a roda da doutrina.

Começou pregando em Varanasi, seguiu depois até Rajagriha e foi recebido pelo Rei Bimbisara. O verão ele o passava em Shravasti (considerada na época, dentre as mais opulentas e luxuosas cidades do mundo); os dois meses seguintes em Rajagrila, enquanto no tempo que restava, caminhava pelas Repúblicas. De certa forma, fazia a roda da doutrina girar em todos os reinos rivais de sua Índia.

Se Sidarta teve o apoio de determinados reis, obteve-o em especial da classe dos mercadores, a qual  sempre ajudou tanto os budistas, quanto os jainas.  Um dos principais motivos era que essas religiões ao contrário do bramanismo, não apoiavam as guerras, permitindo o florescer dos negócios. Além disso, os seguidores de Buda nada desejando possuir, permitiam àqueles que tudo desejavam desse mundo, uma espécie de porteira aberta para o enriquecimento.

Como o tempo deve ser considerado parcela do sonho do qual você deve despertar um dia se quiser ser atingir a Iluminação, o budista aceita o mundo como ele é, não tenta modificá-lo, mas sim, eliminá-lo. É por esse motivo que todas as tentativas de envolvimento do Buda na política falharam.

Buda, ao lhe ser narrado o parricídio do qual o Rei Bimbisara fora vítima, simplesmente sorriu. Não se compadeceu, pois os reis são parte do perturbador teatro de marionetes a que o “homem perfeito” já não assiste mais. Buda é um Tathagata, aquele que chegou e já partiu.

Falemos um pouco mais de sua doutrina. As palavras que Buda pronunciou são os seus sutras. Principiemos pelas quatro nobres verdades de Buda:

Toda a vida é sofrimento ( se você consegue o que deseja sofre, se não o consegue, também);Desejar o prazer ou a permanência numa criação onde tudo é fluxo, só pode levar à tristeza;O sofrimento nunca acabará enquanto o fogo for alimentado;O fogo deve ser extinto através do não querer.

No entanto, para se alcançar as quatro verdades, é necessário que se siga o Caminho dos 8 passos:

Princípios corretosIntenções corretasPalavra corretaConduta corretaViver corretoDesvelo corretoEsforço corretoConcentração correta

O último passo após o Caminho dos Oito é cessar de evoluir e de ser.

Esse Caminho pode oferecer a libertação da dor provocada pelas flechadas, assim como um antídoto contra o veneno, que é o próprio mundo. O sacrifício que o budismo exigia era tão somente “do animal que existe em nós”.Arhat é a designação “daquele que matou o inimigo, um inimigo sempre interno, tal qual o desejo físico”.

Buda ainda definiu as cinco regras morais:

Não matarNão mentirNão se embriagarNão roubarNão fazer sexo

De tal modo que Buda é aquele que atravessou o rio da vida material. É “O Iluminado”, o Perfeito, aquele não tem mais existência, apenas seu corpo reside, por alguns meses, em Sharavasti.

Ele também excluiu de sua roda doutrinária a luta do Bem contra o Mal, da Verdade contra a Mentira. Ele pura e simplesmente  ajuda os homens que estão à margem do rio, mostra-lhes uma balsa para a travessia. Aqueles que fizerem a travessia, verão que nada existe além, nem mesmo o Buda. O fogo terá se extinguido e o sonho dessa existência esquecido, e será quando aquele que atingiu a iluminação despertará.

Por isso, o objetivo de tudo o que seja material é o Sunyata e o Sunyata é o nada.

Um seguidor de Sidarta aceita todos os deuses, considerando-os parcela da paisagem cósmica. E como parcela da paisagem cósmica, ele, quando colocou em movimento a roda da doutrina, deixaram de existir, ao mesmo tempo em que o próprio Buda deixou de ser.

Buda acredita na transmigração das almas entre homens, plantas e animais; que o último estágio da evolução é o Nirvana, onde termina a longa cadeia do ser, por pura e simples extinção. Tal quais outras religiões indianas, os castigos e recompensas em qualquer vida são os resultados dos atos anteriores, nessa vida ou nas passadas.

Somos totalmente escravos do nosso karma, cuja tradução é destino. Tudo o que é sujeito à casualidade é uma miragem, pois tudo são efeitos de causas, a maior parte delas desconhecidas.

Como ninguém pode saber se sua própria teoria sobre a criação é correta, é absolutamente impossível saber se a outra pessoa está errada.

O budista leigo deve ser alegre, afável, piedoso e equânime; já os membros da Sangha devem abrir mão não apenas das tristezas, mas de todas as alegrias desse mundo.

Sangha é o nome da ordem ou comunidade dos budistas primeiros. Ao contrário das outras Sanghas, o budista somente admitia uma decisão a que se chegasse por unanimidade e não por maiorias. Ela foi criada por Sariputra, assistente de Sidarta e foi quem estabeleceu suas regras depois da morte física do Buda. Como esse em vida, não permitia que seus sutras fossem transcritos, Ananda era o encarregado de decorar e reproduzir cada sutra emitido.

Enfim, o Buda é sempre único no tempo presente. No seu tempo, Sidarta era o vigésimo terceiro Buda e, após ele, viria tão somente mais um e seria o último!

Observação: A flor de lótus é sagrada para os orientais e em particular para os budistas porque ela abre o seu caminho a partir da lama e caminha até à superfície da água, formando uma cadeia de botões. Assim que sai da água, o botão se abre e morre, abrindo lugar ao próximo, reproduzindo o ciclo do nascer- morrer- reencarnar.

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